A eliminação me faz pensar que quando você não acredita na vitória pode sair mais culpado que técnico e jogadores

Na madrugada da eliminação do Brasil na Copa de 2022, sonhei exatamente com isso. Digo mais: sonhei que a Croácia eliminava a seleção brasileira nos pênaltis. Tal como aconteceu. Antes das 10 da manhã – o jogo foi meio-dia – postei nas redes sociais sobre o sonho. Que, aliás, não foi tão bem recebido. Mas, surpreendentemente, foi mais mal recebido depois, quando a visão onírica se concretizou.
Sonhei que a Croácia ganhava nos pênaltis. Tomara que esteja errada. Porque quero DEMAIS o home office na terça-feira. #CopaDoMundo2022
— Fernanda (@aloucadamaquina) December 9, 2022
Minha irmã mesmo, a pessoa que mais vi chorar pela seleção brasileira (em 1998 e em 2014), mandou no grupo da família que eu torcia contra o Brasil e devia estar feliz. Confesso que há anos, até antes do seteaum, não sofro mesmo pelos brasileiros em campo. Sofro mais pelo Corinthians. E misturo política com futebol, porque misturo política com tudo na vida. Daí que torcer para jogadores apoiadores de genocida é realmente muito complicado pra mim. Mas minha irmã não tem razão ao dizer que torço contra.
Nem sequer foco minha energia para querer que a seleção brasileira seja eliminada. Fiquei meio a fim de Richarlison, como todo mundo carente de um herói, já que Neymar não dá para muitos. Mas não achava, em nenhum momento achei, que o hexa viria. Isso de amar o futebol de forma não ufanista leva a gente a lugares solitários, sem vuvuzelas, sem camisa amarelinha e com conclusões mais racionais e realistas. Tenho até saudade de quando, de quatro em quatro anos, achava o Brasil imbatível.
Vale falar que não foi só a minha irmã. No grupo de WhatsApp dos amigos fãs de cinema, mesmo que em tom de brincadeira, fui considerada a culpada pela eliminação do Brasil. Esse pensamento tão forte derruba a seleção brasileira do campeonato mais importante do mundo do futebol, mas é incapaz de “descobrir” umas passagens possíveis de serem pagas para passar o Natal com a família. Risos. Choro.
A eliminação do Brasil pela Croácia me levou a pensar que quando você não acredita na vitória da seleção pode sair mais culpado que técnico e jogadores. Se você diz que não vai rolar – e não rola – não foi uma visão estratégica sua, não foi seu conhecimento sobre as outras seleções, não foi erro do time, não foi nada disso. Foi VOCÊ. Você que não usou a mesma calcinha da estreia, não assistiu aos jogos com as mesmas pessoas, na mesma TV, sentada do mesmo lado do sofá.
Para completar, e sempre vale voltar a ele, ainda tem o machismo. Entender um pouco mais de futebol, ter a visão geral de quem são, de fato, os melhores, e ser mulher, pode ser mal recebido no mundo dos homens. Em 2018, dizer, ainda na fase de grupos, que a França ganharia a Copa foi motivo de piada. Mas nenhuma mulher riu de mim, vale dizer.
Esse ano, desde o comecinho, disse que a final seria entre Argentina e França. Com vitória da Argentina, mesmo que não ache que seja exatamente a melhor seleção, e artilheiro da França. Com essas duas seleções como semifinalistas, acompanhadas de Croácia e da inimaginável Marrocos, ninguém ~ nenhum homem ~ pode (ainda) dizer que eu estava errada.
Mas, junto com os que ficaram bravos com o meu sonho, teve gente me pedindo para jogar na Mega-Sena da Virada. Inclusive desconhecidos. Nunca joguei. Prometi que esse ano jogo.
- Mãe Dinah da Copa - 11/12/2022
- Allez les bleus, Maradona! - 23/11/2022
- Por respeito ao fim do mundo - 18/06/2022