Com a posse de Lula, podemos reencontrar nosso vira-lata interior?

A cadela Resistência, com seu pato amarelo (não é aquele da Fiesp) | imagem: Janja Silva

Nunca antes na história desse país havíamos assistido a uma posse presidencial com participação de uma cadela: Resistência – vira-lata que, primeiro acolhida pelos acampados na Vigília Lula Livre, foi depois adotada pela socióloga Janja Silva, hoje primeira-dama – subiu a rampa com o presidente Lula. Cá na Úrsula, isso nos lembrou de um texto publicado em Sob a Sombra das Chuteiras, nosso encarte com crônicas e ensaios sobre a Copa do Mundo, e nos sugeriu um questionamento sobre a identidade brasileira.

Veja também:
>> “Confissões de um Manifesto: Posfácio Paçoca“, por Antonio C. N. Neto

O texto em questão é “Joga pra mim, vira-lata caramelo!“, de Luis Fernando Amancio, que discute os motivos da desclassificação da Copa e os caminhos para vencer em 2026. Na esteira do escritor Nelson Rodrigues, o nosso cronista buscou ver na seleção e na sua relação conosco uma imagem do Brasil. Seguindo esse princípio, ao analisar o país, a postura dos seus cidadãos, Nelson identificou o complexo de vira-lata, a tendência de o brasileiro se ver como inferior em todos os aspectos. Luis aponta que isso mudou: hoje o que mostra a nossa cara é o complexo do pedigree, a convicção de que seríamos naturalmente privilegiados. Presos a essa visão excessivamente positiva, enganosa, de nós mesmos, não vemos nem agimos bem. Por essa razão, perdemos a Copa (e o que mais?).

Sendo assim, escreve Luis, para vencermos a Copa outra vez, seria preciso modificar nossa atitude:

É hora de sermos novamente vira-latas. Não como sinônimo de inferioridade, entretanto. Pensemos no vira-lata caramelo, essa espécie que merece lugar no panteão dos símbolos nacionais. Um animal simpático, cheio de graça, encontrado facilmente em frente ao seu comércio de preferência, ou circulando por rodoviárias e praças. O vira-lata caramelo não quer guerra com ninguém. Ele só quer sobreviver e, convenhamos, o faz com excelência.

Resistência não é caramelo – como uma colega que fez na Vigília Lula Livre, Esperança –, mas é vira-lata. O símbolo que Nelson construiu, assim, está de ponta-cabeça: o vira-lata não é o inferior, está como que empossado, Resistência seria algo como uma primeira-cadela. É o vira-lata em local de destaque, enquanto símbolo. Pode isso representar uma virada psicológica do brasileiro – isto é, abrir a chance de que sigamos a sugestão de Luis e redescubramos o vira-lata em nós?

Para saber mais:

>> “Resistência sobe a rampa“, reportagem de Clara Rellstab na piauí sobre a história da cadela e de outros pets do Planalto

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