Uma Copa se faz com muitas histórias

Me interessa acompanhar as nuances do campeonato, para além das quatro linhas

Um grupo de torcedores da Coreia – que não entre nesta crônica – assiste ao jogo na Copa do Mundo do Qatar: “O futebol causa emoções fora do comum em todos os cantos do planeta” | imagem: Governo coreano

Acompanhar uma Copa do Mundo é ver muito além dos jogos que acontecem dentro das quatro linhas. Uma Copa se faz com muitas histórias. Com sonhos, com roteiros inesperados, com as suas obviedades também. Uma Copa se faz com histórias nos gramados, nas arquibancadas, nas ruas. Com quem está jogando, trabalhando ou assistindo. Algumas delas me chamaram a atenção nesta primeira semana de campeonato.

Imagina esperar 64 anos para ver a seleção do seu país no mundial de futebol? Para nós, brasileiros, a única seleção que esteve presente em todas as 21 edições desde a inaugural em 1930, é impossível se colocar nesta situação. Para País de Gales, não. A única participação deles, até então, aconteceu em 1958, quando, inclusive, perderam para a gente na estreia de Pelé. Voltaram com festa e tudo, mesmo não tendo vencido a primeira partida. Valeu o gol do craque galês Gareth Bale. Foram 64 anos com o grito de gol entalado. Você deve ter visto um menininho, loirinho, vibrando no meio de tanta gente. Com certeza uma das imagens mais emocionantes desta primeira semana de Copa.

Falando em festa, outro país que mostrou que a Copa do Mundo extrapola o campo da racionalidade foi a Arábia Saudita. Até agora, a grande zebra do torneio, eles venceram – de virada! – a Argentina de Lionel Messi, uma das favoritas. Vitória totalmente inesperada, mas aposto que muito sonhada. A euforia foi tanta que o governo saudita decretou feriado (!!!) nacional. O dia em que a Arábia Saudita venceu a Argentina numa Copa do Mundo. Sensacional. Só demonstra o quanto o futebol, este esporte que a gente toma como nosso e que a Europa hoje controla quase todo, causa emoções fora do comum – ouso dizer, em todos os cantos do planeta.

Tem também a história da primeira mulher a narrar jogos de Copa do Mundo na TV aberta no Brasil: Renata Silveira. Histórico. Demorou, mas aconteceu. Apesar de toda hostilidade que ainda presenciamos, Silveira tem se destacado em suas narrações com um tom maduro, cheio de informação e emoção. Temos que falar também de Ana Thaís Matos, que vem abrindo muitas portas para profissionais mulheres no futebol, assim como outras antecessoras fizeram. Ana Thaís é a primeira mulher no posto de comentarista da equipe de transmissão que acompanha a seleção brasileira masculina de futebol. Igualmente histórico.

E já que falamos do Brasil, muitos dos nossos convocados são estreantes em Copa. Inclusive o Richarlison, novo herói nacional, que fez, até agora, o gol mais bonito da edição. De voleio. Cena de cinema. Mas do Brasil deixarei para falar depois de alguns jogos. Por enquanto, me interessa continuar acompanhando essas nuances da Copa do Mundo, que, de quatro em quatro anos, nos presenteia com grandes histórias.

Autor

  • Jornalista formado pelo Centro Universitário FIAM-FAAM, pós-graduado em Mídia, Informação e Cultura pelo Centro de Estudos Latino-Americanos sobre Cultura e Comunicação (Celacc), da Escola de Comunicação e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo (USP). Sua pesquisa focou a produção musical independente. É editor no Itaú Cultural.

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