Chá revelação da seleção brasileira: heróis ou vilões?

A gente torce para recuperar aquela relação seleção-festa-olodum-étetra

“O brasileiro gosta da seleção ou quer gostar de novo, porque ela já deu muitas alegrias pra ele” | imagem: Antonio Thoms

Este texto é um esquenta do encarte que Úrsula começará a publicar no dia de abertura da Copa, com crônicas e ensaios em torno do torneio e do futebol em geral

A Copa do Mundo já começou pros brasileiros. Sim, eu sei que o primeiro jogo é só lá pro dia 20 e pouco – não lembro o dia certinho, só sei que será home office (amém) –, mas todo mundo também sabe que uma das grandes alegrias do brasileiro é dar pitaco na sua seleção – veja bem, seleção masculina de futebol, porque continuamos dando atenção insuficiente à equipe feminina, apesar de alguns avanços nesse sentido –, mesmo que aquela seleção já não seja sua há muito tempo.

Enfim, olha só, o Tite revelou os 26 jogadores que irão para o Qatar defender a amarelinha. Não teve bolo ou bexigas coloridas como nos chás revelação de hoje em dia, mas tava todo mundo esperando esses nomes – não sei se tanto quanto o pessoal que assistiu aquela live cheia de patrocinadores que os ex-BBBs fizeram pra revelar se o bebê deles era menino ou menina, mas vamos tentar fazer a conta?

Nós somos 200 e tantos milhões de brasileiros. Só na live do Casimiro eram mais de 100 mil, acrescenta uns 50 (?) jornalistas da coletiva, uns gatos pingados nos escritórios, a galera do Twitter em peso – esses tão em todas, da Copa ao BBB, das eleições ao Enem, menos na Fazenda da Record porque tudo tem limite –, os grupos de zapzap bombando etc. Aí você subtrai quem não gosta da Copa e o povo que aderiu à greve geral deste 7 de novembro – sim, dizem que teve greve, você não reparou? – e pronto: ainda sobra gente pra caramba falando que fulano não devia tá lá, que o ciclano ficou de fora injustamente, que o Daniel Alves tá velho (cof cof), que o Neymar deveria é pagar o imposto que deve, que o Vini Malvadeza tem que ser titular, que o Bremer é não sei o que e… quem é o Bremer mesmo? Onde que ele joga? Como se alimenta?… mais isso e mais aquilo.

O brasileiro gosta de ser técnico por um dia e escalar a seleção, mesmo que essa seleção não o represente mais. Mesmo que a camisa amarela não tenha mais aquele misticismo de antes. O brasileiro gosta da seleção ou quer gostar de novo, porque ela já deu muitas alegrias pra ele. Porque se lembra de um tempo em que ele podia chamar a família, os amigos e assar uma carne tomando uma gelada antes e depois dos jogos da seleção.

Eu acho que a gente torce mais para recuperar essa relação seleção-festa-olodum-étetra do que qualquer outra coisa. E gritar é campeão da Copa do Mundo tem essa força quase que milagrosa. A Copa só acontece de quatro em quatro anos, minha gente, não é possível que a gente não mereça uma alegriazinha.

E tudo começa com a convocação dos jogadores. Serão eles heróis ou vilões? Porque no futebol é assim: oito ou oitenta. Falamos de processo, mas na Copa o que importa é ganhar. E a partir de agora não tem mais volta. Se o Tite acertou ou não, quem poderá dizer? Afinal, se eles ganham, tá tudo certo; se perdem, aí é porque já começou chamando quem não merecia uma vaga – né, Daniel Alves (cof cof)?

Autor

  • Jornalista formado pelo Centro Universitário FIAM-FAAM, pós-graduado em Mídia, Informação e Cultura pelo Centro de Estudos Latino-Americanos sobre Cultura e Comunicação (Celacc), da Escola de Comunicação e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo (USP). Sua pesquisa focou a produção musical independente. É editor no Itaú Cultural.

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