Editorial – Dezembro/2022-Fevereiro/2023

Nas eleições presidenciais de 2002, o até então trabalhador metalúrgico Rafael Bensi, este que vos escreve, via com entusiasmo a vitória de outro metalúrgico, o líder sindical, Lula. Naquele momento histórico, não importava a Carta aos Brasileiros, não importava a aliança com setores da burguesia, na verdade, aquele Rafael pouco refletia sobre tais contradições. Aquele Rafael via apenas a chance de melhorar de vida, de prosperar. Era um sentimento geral, de alegria e de esperança. Até que enfim, alguém do povo chegava ao Palácio do Planalto. 

De lá para cá, muita coisa mudou, eu não sou mais metalúrgico, estudei, mudei de profissão, pós-graduei. Vi, além de Lula, Dilma, o golpe, Temer e a ascensão, vitória e agora derrota eleitoral do neofascismo brasileiro, representado por Bolsonaro. Passamos por uma grave pandemia, superando sua pior fase com a chegada das vacinas. Obrigado, Ciência!!!

Hoje, o sentimento que tenho é de reconstrução, de muito trabalho. O sentimento de grande parte da população que elegeu Lula, me parece, é de esperança, mais uma vez.

Diante desse breve preâmbulo, lhes apresento a nova edição de Úrsula, começando pela seção de política.

Num tom de vitória na guerra híbrida brasileira, a historiadora Anna Gicelle Garcia Alaniz nos faz refletir sobre o que pensar, o que esperar e o que cobrar do governo formado por Lula, o presidente eleito. Para ela, são vários os desafios da futura gestão, são milhões para alimentar e abrigar. São milhões para empregar e dar condições de vida.

Na mesma seção, Rafael Martins analisa a estrutura social brasileira, nos lembra da deficiência de nosso sistema educacional e nos convida a trabalhar contra o bolsonarismo de forma estratégica, sem revanchismos, usando os algoritmos a nosso favor. Tarefa desafiadora…

Em Cultura, na seção Por que Arte?, a artista visual Alice Lara, responde um questionário sobre os sentidos da sua prática e nos provoca a refletir sobre o mundo da cultura brasileira.

Você também poderá entrar em contato com o debate sobre a Semana de 22 e sua repercussão histórica, a partir do artigo “Espiando a Semana de 1922 pela correspondência alheia”, de Amanda Cruz, que analisou as cartas que Mário de Andrade trocou com outros escritores pelo Brasil, prática que manteve por toda a vida.

Na seção Educação de Úrsula, você conhecerá um pouco sobre a trajetória e a experiência pedagógica da educadora Carla França, carioca, hoje vivendo em Recife, no maravilhoso Estado de Pernambuco. Carla nos fala dos amores, das dores e dos desafios de aplicar a teoria pedagógica na vida prática da educação brasileira. 

Já a seção de Filosofia apresenta algo peculiar, um escritor brasileiro que expressa seus pensamentos a partir da língua inglesa em seu novo livro: The Politics of Metaphysics, ou, em língua nativa, A Política da Metafísica. Felipe G. A. Moreira conta seus porquês na escolha pela língua inglesa e nos fala um pouco sobre a estrutura do livro. Felipe explica que as disputas políticas têm aspectos advindos de debates na micro e na macropolítica, e que são abordados tanto à esquerda, como à direita, com várias contradições. 

Bruno Latour, filósofo e sociólogo que dedicou sua vida a investigar a modernidade, é lembrado e homenageado nesta edição. Latour teve sua existência interrompida pela morte no ano corrente de 2022, mas para Tiago Salgado, ele permanece vivo, e deixa um legado composto por obras, palestras, conferências, livros, ensaios, artigos e  entrevistas. Seu trabalho apresenta diversas visões e questionamentos que ainda vão reverberar por muito tempo. Confira na seção Ciência.

Nesta edição de final de ano, Úrsula viaja por diversos temas e deseja renovar junto com nossos colaboradores e leitores, a esperança daquele Rafael do início deste editorial. A esperança de um Brasil democrático, de um Brasil acolhedor, que promova justiça social e que olhe para as questões mais sensíveis e urgentes, pois como diria Darcy Ribeiro: “Tenho tão nítido o Brasil que pode ser, e há de ser, que me dói o Brasil que é”.

Boa leitura e vamos fazer 2023!

Autor

  • Bacharel e licenciado em História pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC/Campinas), com especialização em Patrimônio Histórico e Cultural pela mesma universidade. Possui também especialização em Gestão Cultural pela Cátedra de Girona e Observatório Itaú Cultural.

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