“O poético e o político – últimas palavras de Paul Valéry”, de Fábio Roberto Lucas

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A tese se dedica ao estudo das relações entre o poético e o político na escritura de Paul Valéry entre 1940 e 1945, anos arrasados pela segunda guerra e também os últimos da vida do escritor.

O período estudado começa, assim, no verão de 1940, quando a França perde a batalha contra os alemães, Paris é ocupada pelos nazistas e Valéry, abrigado no norte do país, põe-se a escrever o terceiro Fausto que ele há tempos desejava compor. A pesquisa se estende até maio de 1945, pleno apogeu da Libération Française, quando o escritor publica em jornal gaulista (aquelas que [não] deveriam ser) as “Ultima Verba” do vencedor do conflito, e termina o poema em prosa “LAnge” depois de duas décadas de trabalho sobre esse texto.

Seguindo a escritura diária dos cahiers de Valéry e as notas do curso de poïética ministrado pelo poeta no Collége de France naqueles anos, a tese busca apreender como as estratégias poéticas das obras analisadas “Ultima Verba”, “LAnge” e “Mon Faust” são concebidas para enfrentar os acontecimentos esmagadores daquele período. Com efeito, elas modulam recursos sensíveis, significativos e formais do ato poético, pondo em contradicção as forças heterogêneas do discurso e sua dicção, da voz e do pensamento (lógos e foné), ser e convenção, estabelecendo uma implicação recíproca do poético e do político: o poeta como político profundo, entre as majorités do som e do sentido.

Essa implicação põe em jogo a autonomia e a soberania da linguagem poética, os modos de circulação do discurso numa sociedade democrática e o gesto do poeta frente às aporias do processo de escrita. Desse modo, procura-se menos revelar a política de suas escolhas (as vias que o escritor abre ou fecha; ainda que isso seja parte do problema, não é o principal) do que pensar na política de sua poética, perceptível na modulação das diferentes maneiras de ver que compõem o poema, uma modulação que cala ou interrompe, escuta ou prolonga suas hesitações. Assim, veremos que os dilemas da fiducia política e da ciência moderna elaborados nos brouillons do ciclo fáustico e nas notas do curso de poïética reencontram a hesitação prolongada, o inacabamento e infinitização contínua do ato poético, sempre em curso de driblar injunções fiduciárias e técnicas, num momento em que a Europa moderna tinha mais do que nunca carência de repensar os pactos, moedas, projetos e o próprio para, [vencedor, nesse] momento em curso na literatura e na comunidade.

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