Algo de novo no front: um ano de invasão da Ucrânia pela Rússia

No balanço da guerra, destaca-se a resposta ucraniana, que frustrou as ambições russas. Hoje, há quatro hipóteses para o fim do conflito

O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky | imagem: Manhhai

O fato decisivo foi a resistência dos ucranianos, que se uniram em uma guerra assimétrica e popular contra o invasor russo. Vladimir Putin não somente anexou territórios reconhecidos internacionalmente da Ucrânia; como seu exército também os submeteu a um estado de terror, multiplicando crimes de guerra e contra a humanidade. Os ataques russos se dirigem contra toda uma população, cujo direito de existência enquanto coletividade independente é negado. Os vários segmentos e estriamentos da sociedade ucraniana aglutinaram-se ao redor da liderança política, o presidente Volodymyr Zelensky, em nome da luta pela independência nacional. Ao longo dos últimos meses, a chuva de mísseis de cruzeiro russos sobre as cidades e a infraestrutura de energia, água e transporte ucranianas não foi capaz de abater o ânimo resistente de uma população que vive uma catástrofe humanitária, com uma dezena de milhar de mortos civis e milhões de deslocados e refugiados noutros países. Como escreveu Michel Foucault, em uma de suas reportagens de ideias durante a revolução iraniana de 1978-79, resistir é o ato antiestratégico por excelência, pois desafia os cálculos prudenciais das relações de forças e embaralha os esquemas em vigor. Resistir não mede consequência, ao avesso, é a resistência que abre o leque de novas possibilidades, a medida de um futuro que não existia. E não existe resistência sem um conteúdo de húbris, de imprevisível, já que se resiste ao poder que incide e se abate sobre o resistente. Diante do mais forte, a resistência relança os dados, tira-nos dos impasses, impede o fechamento existencial no já estabelecido e consolidado. É uma ação no tempo, mas vivifica o tempo, muda seu estatuto, pois desestabiliza os fundamentos de sua repetição homogênea, colocando assim os poderes constituídos em risco. O que era seguro e certo – que a Rússia, terceira força armada do mundo, não teria dificuldades em subjugar o país vizinho – se abre à contingência.

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>> “A Queda do Gigante Vermelho“, por Primo Deusdeti

À luz da lei internacional, a ilegitimidade da invasão é indisputável. Os atos de agressão e violação cometidos pelo estado russo contrariaram a Carta da ONU e o direito de Genebra, além do Memorando de Budapeste, formalizado em 1994 justo para garantir a integridade territorial da Ucrânia em troca da entrega do arsenal de quatro mil ogivas nucleares herdadas do colapso da URSS, ocorrido três anos antes. Não acolheu à Federação Russa nem sombra de casus belli, como reconheceu a Assembleia Geral das Nações Unidas por margem esmagadora. Contudo, mais crítico para frear os invasores não foi estar do lado certo da história nem amparada pelo exercício do direito de legítima defesa, mas sim a novidade assombrosa da resistência ucraniana, desde os primeiros dias da invasão. Brotada de uma sensação coletiva compartilhada de injustiça, aviltamento e sofrimento real, a vontade de resistir coligou governo, população e forças armadas ucranianos de um modo coeso. Putin buscou legitimar sua invasão para o público interno por meio de falsos silogismos históricos. À moda de Stálin, o ditador se coloca como historiador-em-chefe (amador) do país, fazendo tábua rasa dos acordos pregressos e das fronteiras reconhecidas pela própria Rússia aos vizinhos. Segundo o revisionismo putinista, a Rússia estaria dotada por direito divino de perene direito histórico a definir os rumos políticos e econômicos da região geográfica circundante. Como se vivêssemos ainda na era dos impérios, quando os líderes dos principais países capitalistas repartiam entre si as colônias, os estados “falhados” e sem soberania. Diante do historicismo ad hoc que transpira dos textos e pronunciamentos de Putin, prevalece no lado dos invadidos, na Ucrânia da resistência, o chamado à história – que Zelensky, os ucranianos em luta e seus aliados e apoiadores até agora foram virtuosos em responder à altura.

Nem mesmo os analistas militares mais otimistas quanto ao preparo, a aptidão para o comando e as capacidades militares da Ucrânia previram o grau de fracasso que seria impingido à primeira onda da invasão russa, deflagrada por ordem de Putin há exato um ano. O plano original da Federação Russa consistia num ataque múltiplo através de quatro imensas frentes, visando ao aprofundamento do exército ofensor no território ucraniano. Era para ser uma blitz acachapante: rápida tomada de aeroportos, eixos logísticos e elos ferroviários, pela ação de tropas aerotransportadas, unidades de assalto e forças especiais; seguida da chegada do grosso das forças de ocupação, para pôr ordem na casa e, eventualmente, proceder à anexação dos territórios à Rússia. O planejamento da campanha pelos estrategistas do Kremlin seguiu a tradição das intervenções soviéticas no século passado:  investida relâmpago com superioridade de meios e tecnologias, direcionada primeiro à infraestrutura de transporte, depois convertida em base de operações para a fase seguinte. O objetivo militar dos invasores consistia em nada menos do que dominar toda a fração territorial ucraniana a leste do rio Dnipro, correspondente a aproximadamente metade da área do segundo maior país da Europa, atrás apenas da própria Rússia. Em paralelo à incursão das brigadas de tanques e blindados e ao lançamento de paraquedistas, se realizaria o objetivo político: decapitar o governo Zelensky, entendido como principal óbice às pretensões imperiais da Rússia, a que o político ucraniano vinha se contrapondo mais e mais, ao acionar e estreitar alianças com a União Europeia e os Estados Unidos. A autoconfiança do planeamento russo se fundava na premissa tremendamente otimista que os ucranianos não detinham uma cultura nacional bem desenvolvida e não arriscariam a vida por uma nacionalidade postiça, de maneira que, quando ouvissem o ronco dos tanques, a população se dividiria entre opositores e apoiadores da anexação pela Federação Russa. Nessa expectativa que não sobreviveu ao teste da realidade, a proporção entre pró-Rússia e anti-Rússia seria tão mais a favor do invasor quanto mais a leste da Ucrânia se estivesse, devido aos maiores laços econômicos e um mesmo pano de fundo linguístico e étnico.

O que aconteceu foi o inverso: a invasão acelerou o processo de autodeterminação da cultura nacional ucraniana, fortaleceu os elementos de autonomia em relação ao vizinho, e intensificou a russofobia cada vez mais presente na sociedade da Ucrânia. Surpreendentemente, isto ocorreu até mesmo nas províncias mais orientais, que não trocaram rapidamente de camisa, como havia acontecido, até certo ponto, quando da ocupação militar da Crimeia, em 2014. Ainda que as populações do leste da Ucrânia desejem maior autonomia em relação ao governo central de Kyiv, de preferência no formato federativo, bem como liberdade para desenvolver uma identidade regional russocêntrica e falar o russo como idioma oficial, a maior parte da população não apoiou a opção militar violenta adotada por Putin. Tinham compreendido o péssimo negócio de serem escolhidas por Putin para serem “protegidas” pelo uso da violência. Exatamente nas áreas mais russófonas da Ucrânia, que em gesto imperial Putin prometeu apadrinhar, foi onde a invasão produziu mais destruição e morte. O sofisma implicado na proteção oferecida por Putin lembra o do armamentista e irascível Hitler de 1938, quando o III Reich invadiu os Sudetos checos em nome da “proteção de minorias”. O cálculo original da correlação de forças ainda supunha a debilidade política e mesmo psicológica de Zelensky – um comediante midiático que havia protagonizado a série televisiva Servidor do Povo. Tido por inexperiente e apalermado por Putin, como se o presidente ucraniano não passasse de um fantoche dos americanos, esperava-se que aos primeiros fogos ele seguiria um de dois possíveis caminhos. Podemos epitomá-los pelos destinos históricos de Salvador Allende e Juan Guaidó. Na hipótese Allende, o presidente ucraniano seria vitimado por um golpe palaciano realizado pela cúpula militar ucraniana, interessada em se safar por meio de uma capitulação negociada com Putin. Na segunda hipótese, para salvar a pele, Zelensky seria exfiltrado da Kyiv sitiada pelos seus aliados ocidentais e levado para algum país do Ocidente. Montaria na sequência um governo ucraniano no exílio reconhecido por parte da comunidade internacional, porém inócuo, à semelhança de Juan Guaidó, o presidente fantasma da Venezuela. Em ambos os casos, uma vez destituído o presidente eleito e a Ucrânia restituída à condição de estado satélite, caberia ao regime putinista escolher um títere local para lhe representar os interesses, quiçá como Lukashenko na vizinha Belarus, outra nação incorporada ao projeto restaurativo da Grande Rússia.

Cena fotografada um dia após o início da guerra, em 25/2/22, em Kyiv | imagem: UNDP Ukraine

Nada disso, como se sabe, aconteceu. Biden chegou a oferecer uma carona a Zelensky, que retrucou valentemente que não precisava, que lhe dessem armas. Foi o primeiro gesto marcante de uma sucessão que viralizou pelas redes e insuflou a ousadia dos ucranianos e seus apoiadores: o dedo mostrado pelos marinheiros cercados na Ilha da Serpente à “Moscou”, a nau capitânia da armada do Mar Negro; os tratorzinhos dos agricultores rebocando tanques T-72; as cenas chocantes de colunas inteiras de blindados russos sendo aniquiladas por guerrilhas bem posicionadas nos flancos desguarnecidos; o afundamento do “Moscou” por um míssil de cruzeiro; o ataque à sede da marinha russa em Sebastopol; o ataque à base aeronaval de Saki; o atentado que inutilizou um trecho da ponte sobre o estreito de Kerch, ligando a península da Crimeia ao sul da Rússia. Entrementes, não houve o esperado golpe militar em Kyiv, em vez disso, as forças armadas ucranianas apertaram a disciplina em torno do propósito comum de autodefesa, que Zelensky passou a personificar e representar pelo mundo. Os militares e guerrilheiros ucranianos foram capazes de uma integração operacional e unidade de comando que os russos, fragmentados descoordenadamente em quatro frentes e prejudicados pelo microgerenciamento exercido por Putin em assuntos propriamente militares, não conseguiram contrastar até agora. A partir de março, o regime de Putin passou ao Plano B contra Zelensky: neutralizar o humorista que ficou sério, sacando do repertório da Rússia o tanto testado e aprovado método do assassinato político. Também não funcionou. O nível de lealdade dos generais de Zelensky somado aos meios de contrainteligência fornecidos pelos aliados ocidentais conseguiram frustrar as várias tentativas contra a vida do presidente ucraniano, perpetradas pelo Departamento Central de Inteligência russo (GRU, na sigla em língua local) – órgão que executa operações em zonas cinzentas desde 1942, ano de sua fundação por Stálin. Em paralelo, em nenhuma província invadida, mesmo no oriente russófono da Ucrânia, os habitantes receberam os soldados russos com tapetes vermelhos ou flores. Apesar de uma ou outra pantomima encenada pela divisão de operações psicológicas do exército russo, o único lugar onde se viu uma manifestação significativa e autêntica nas ruas foi na cidade ucraniana sulista de Kherson, contra os russos, o que ocorreu logo no início da ocupação.

A primeira onda da invasão foi um desastre para a Federação Russa em muitos sentidos, em especial, de relações públicas. Inicialmente, o regime putinista pretendia alavancar a propaganda da indústria de defesa da Rússia, com a exibição de novos sistemas bélicos a serem oferecidos a seus clientes e compradores: mísseis hipersônicos, caças de quinta geração, sistemas orbitais, munições vagantes e aparatos de ciberguerra. Para servir ao marketing bélico, o conceito operacional da invasão russa foi desenhado à forma de um show de exibição de pujança e novíssima tecnologia. Desconsiderou a variável mais importante, a existência real de um oponente decidido a resistir e que, na última década, vinha se armando e preparando para tal. Uma mancada caríssima da parte da inteligência russa. O desenho original da invasão seguia a lógica consagrada nas antigas incursões soviéticas pacificadoras na Tchecoslováquia (1968) e Hungria (1956), voltadas a enquadrar regimes políticos que, na visão do Kremlin, estariam se bandeando para longe da pressuposta esfera de influência de Moscou. Como naquelas operações pacificadoras, agora sob a alcunha oficial de Operação Militar Especial, as tropas russas cruzaram a fronteira da Ucrânia praticamente ao modo de uma operação policial e até de parada, quase como num desfile de 7 de setembro. As colunas de tanques avançaram sem cobertura aérea, sem guarnecer os flancos com infantaria, e mesmo com tropas de elite por vezes vestindo uniformes de passeio. Encontraram uma realidade muito diferente do que nos países socialistas do antigo Pacto de Varsóvia. O que era para ser um espetáculo de superioridade técnica e militar, se mostrou um pesadelo para o exército e a indústria da Rússia, que saíram com a reputação desmoralizada. Logo nas primeiras semanas da invasão, bem posicionados em um terreno conhecido e fortificado, com profusão de dados oferecidos pela inteligência ocidental e pelos incontáveis informantes de sua própria população, as forças armadas da Ucrânia destruíram uma porção significativa das unidades de elite empregadas e do melhor equipamento sacado dos arsenais da Federação Russa. Foram infligidas às forças russas, já nas primeiras semanas da invasão, perdas irreparáveis em curto e médio prazo. Para não perder ainda mais, o alto comando conseguiu convencer Putin a fazer o que nunca havia feito em sua carreira: bateu em retirada, desmontando o cerco a Kyiv e a Zelensky, que não deixou a capital em seus dias mais difíceis. Em abril de 2022, essa foi a primeira vitória da Ucrânia no campo de batalha sobre a Rússia desde a época dos cossacos no século XVII.

O desastre da invasão para a Federação Russa repercutiu no plano estratégico, com consequências de longo prazo. Os inesperados resultados obtidos no campo de batalha e a percepção de uma liderança confiável e duradoura asseguraram ao governo Zelensky o crescente apoio logístico, político, diplomático, informacional e bélico da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). Ao passo que as atrocidades e os crimes de guerra praticados pelas tropas putinistas, em Bucha, Borodyanka ou Izium, sob a gramática genocida vocalizada pelos falcões do regime em Moscou, galvanizaram o apoio das populações civis da Europa e do outro lado do Atlântico à causa ucraniana. Ante o apetite expansionista da Federação Russa, a aliança euro-atlântica renasceu de um estado de irrelevância tendencial, e se preencheu de senso de propósito, sem com isso atrair uma oposição ruidosa ou passeatas de grande porte anti-Otan no interior das nações membros, como ocorrera no começo dos anos 1980. Em apenas um ano, a organização voltou a ser o eixo da geoestratégia de segurança dos estados europeus, que se reaproximaram do escudo protetor norte-americano e vem incrementando seus gastos militares. Ademais, Suécia e Finlândia candidataram-se a integrar a organização, um baque sério à estratégia naval da Rússia, já que o Mar Báltico se tornou de uso quimérico para a esquadra de Putin. Em vez de deter a expansão da Otan, a invasão a precipitou. A tendência é de remilitarização geral da Europa Ocidental, Central e Oriental, inclusive a Alemanha, um país cuja sociedade vem reelaborando os traumas históricos para mudar a orientação pacifista – no que ficou conhecido como Zeitenwende (a virada).

De fato, Federação Russa herdou uma fração do poderio da União Soviética (1922-91), que chegou a englobar a sexta parte do mundo e empilhar o maior arsenal convencional e nuclear de todos os tempos, durante a Guerra Fria. Realmente, Putin vem investindo pesado, por muitos anos, para a modernização e o rearmamento do estado, tendo intervindo na Síria também para testar e exibir novas tecnologias. Contudo, não tendo conseguido aplicar um ippon na Ucrânia nas primeiras manobras, a mesma Rússia agora se vê atolada numa guerra que provavelmente não pode mais ser vencida, pelo menos não nos ambiciosos termos iniciais. É implausível, para não dizer impossível, a Rússia conseguir derrotar uma Ucrânia se ela se mantiver unida e resistente, e enquanto estiver sob o respaldo dos trinta estados-membros da Otan. Vale lembrar que a Otan não inclui apenas a máquina de guerra norte-americana, como também seis das dez maiores economias do planeta, com bastante gordura para queimar quanto à mobilização industrial e recursos financeiros. Não é por outro motivo que Putin passou a buscar algo para vender ao público interno que pareça com uma “não-derrota”, noutras palavras, uma saída honrosa – possivelmente, a conquista do Donbas e a consolidação da Crimeia como territórios plenamente russos.

Cena de 12/11/22, fotografada em Kherson, cidade ocupada pelos russos desde 2/3. O homem e a criança estão diante da Prefeitura | imagem: UNDP Ukraine

Nem tudo foram revezes para a Rússia. O volume de sanções e restrições imposto pelos aliados da Ucrânia não chegou perto de colapsar as cadeias logísticas russas. O parque industrial reorientou as redes de suprimento para parceiros asiáticos, substituiu uma parte das importações por meio de reengenharia nacionalizada, e contornou uma outra parte das faltas de componentes lançando mão dos mercados paralelos. Além disso, a condição específica da Rússia de mega-exportador de commodities, associada a uma gestão rigorosamente ortodoxa do Banco Central da Rússia, permitiu ao governo estabilizar o rublo em relação ao dólar. Com o ambiente financeiro de pé e o redirecionamento de uma porcentagem das exportações, a economia continuou girando. Economicamente, portanto, as sanções não surtiram o efeito disruptivo esperado pelos aliados dos ucranianos, conquanto para certos circuitos produtivos de alta tecnologia, tal como o setor-chave de semicondutores, a indústria russa está sendo obrigada a voltar ao século XX. O maior efeito das sanções não se deu no plano da economia doméstica russa, nem na perda de apoio a Putin, mas no âmbito diplomático, catalisando o isolamento desse estado no cenário internacional. O medo de ser alcançado pelas sanções teve um efeito preventivo. A extensão e a determinação dos aliados pró-Ucrânia acuaram potenciais parceiros estratégicos da Rússia, com receio de serem atingidos por sanções e pelo rechaço dos públicos internos, escandalizados com os crimes de guerra cometidos pelos militares invasores. Foi o suficiente para induzir cautela no bloco a que a Rússia pertence, os Brics, que, ainda que seus presidentes sejam simpáticos a Putin, se mostraram contemporizadores ou ambíguos nas reações à invasão. Até agora, concretamente, além é claro da Belarus de Lukashenko, um estado vassalo, Putin só conseguiu envolver diretamente no esforço de guerra de agressão os inimigos declarados do Ocidente e já extensamente sancionados: a teocracia do Irã, que está fornecendo grandes quantidades de drones; a ultramilitarizada Coreia do Norte, de quem está obtendo montanhas de munição; e a Nicarágua, que pelo menos vota sempre com a Rússia nas decisões da Assembleia Geral da ONU.

O destino de Putin se encontra soldado ao da Operação Militar Especial. Putin não tem uma rota de fuga fácil depois da aventura militar de que assumiu a autoria desde o princípio. O fracasso definitivo, a percepção incontornável de derrota deve significar, na política doméstica, a ruína de sua popularidade e sua subsequente provável queda violenta. É verdade que, na Rússia hoje, é difícil enxergar de onde viria o golpe ou levante contra o governo putinista. Mas isto se deve antes ao caráter autoritário e censor do regime, que torna opacos os dissensos e oposições. Diferente de um regime liberal-democrático, em que as transições se dão à luz do dia, levando à alternância pacífica de mandatários, numa ditadura a crise destituinte tende a vir de uma só vez, de chofre. Como noutras ocasiões, os mesmos correligionários de hoje tendem a ser os algozes de amanhã, quando pressentirem sinais de fraqueza do Grande Líder e oportunidades para as elites escaparem do atoleiro em que o país foi metido devido à invasão. Enquanto isto não ocorre, Putin vai sendo coagido pela lei da sobrevivência a fundir discursivamente seu destino político ao destino da Rússia. Ou seja, Putin precisa continuamente gerar meios de repressão e convencimento da população de que o sucesso na guerra é condição de sobrevivência da própria Rússia, de seu orgulho nacional e prosperidade futura. A permanência de Putin deve ser encarada como condição existencial da Federação Russa e vice-versa. Só assim, equiparando sua queda à derrocada do país, Putin pode continuar sustentando as perdas, mas obviamente que existe um limite. Os quandos e o comos são incógnitas. A grandiloquência dos anúncios da restauração da Grande Rússia, com o que Putin se paragona aos czares, vestindo-se com o manto púrpura do império dos mil anos, não tem outro propósito senão emular uma grandiosidade ameaçada pelo inimigo externo, grandiosidade que se encarna em Putin, o último czar. Por isso, os resistentes ucranianos, os aliados ocidentais e os detratores latentes no âmbito doméstico não precisam vencer a Rússia histórica nem de alguma forma humilhá-la, mas apenas favorecer as condições destituintes que conduzam à derrubada do regime político. Diante do quadro, Putin dobrou a aposta inicial mesmo diante da unidade e resolução demonstradas pela Otan em apoiar a Ucrânia e das retiradas de abril. Por não haver saída para ele próprio, foi na única direção possível, em frente. Putin ordenou a mobilização de centenas de milhares de recrutas, majoritariamente oriundos da juventude empobrecida, de presídios e de minorias asiáticas da Rússia, a conversão (gradual) da economia do país em economia de guerra, e um rol de contra-sanções econômicas, tais como o corte do fornecimento do gás à Europa Ocidental e entraves ao importante comércio de grãos ucranianos.

No seu livro clássico sobre a guerra, publicado em 1832, Clausewitz define a guerra como uma luta entre duas vontades em que uma busca, pela violência, submeter a outra a fazer o que ela quer. Sendo um teórico realista duro, Clausewitz não equipara as vontades às intenções declaradas pelos líderes, mas a fatores materiais e imateriais que condicionam a faculdade de forçar o inimigo ou resistir a ele. Seguindo a definição do autor prussiano de Sobre a guerra, a vontade do estado russo exercida na prática se revelou débil quando comparada à ucraniana, que não só não se curvou aos objetivos do estado maior e mais bem armado como o forçou a reduzir as metas. Do lado russo, o deságio verificado nos campos de batalha foi compensado vicariamente, pela via da inflamação retórica. A sensação de impotência levou o regime a aprofundar uma gramática de erradicação da nacionalidade ucraniana, tratada como sub-raça do russo, uma forma de compensar pela hipérbole a redução das ambições. Além disso, não sendo capaz de forçar os ucranianos a reconhecer os (improcedentes) direitos históricos reivindicados, Putin recorreu seguidamente à chantagem nuclear e a outros modos de guerra não-convencional: weaponização da energia, da segurança alimentar global e até da imigração. Depois da retirada de Kyiv, a Rússia seguiu ainda perdendo batalhas por diversos meses, com taxas de atrito desfavoráveis ao agressor. Em setembro, a contraofensiva surpresa no nordeste da Ucrânia libertou uma fração grande da província de Kharkiv, levando ao colapso das forças de ocupação que ali estacionavam. Misto de descuido e incompetência dos militares russos, que não acreditavam na capacidade ofensiva dos ucranianos. A reação russa veio na forma da ainda mais compensação simbólica: mais hipérboles retóricas, chantagens desafiadoras e o decreto de anexação dos territórios ocupados de quatro províncias ucranianas à Rússia. Mesmo assim, algumas semanas depois, os russos tiveram de se retirar da margem ocidental do Dnipro, outra retirada forçada pela alta taxa de atrito no contato com as armas de precisão ucranianas, tal como a artilharia de foguetes guiados americanos Himars. Os êxitos consecutivos animaram Zelensky a ponto de passar a falar abertamente na recuperação de todos os territórios ocupados pela Rússia na Ucrânia, inclusive a integralidade do Donbas russófono a leste e a península da Crimeia, anexada sem ser disparado um tiro há cerca de dez anos.

Registro de um evento realizado pela Embaixada dos Estados Unidos em Londres em prol da Ucrânia. A guerra fortaleceu a relação EUA e Europa e reposicionou a Otan no mundo | imagem: U.S. Embassy London

No duelo das relações-públicas, Putin se apresenta como um novo czar, um Stálin mas sem a foice e o martelo, o homem forte com a missão de reerguer o orgulho nacional ferido com o fim da Guerra Fria. Abusando de poses majestáticas, com gestual arrogante, sempre em palácios de salões brancos amplíssimos, atrás de mesas desproporcionalmente encompridadas ou em megaeventos midiáticos cuidadosamente roteirizados para cultuar a sua personalidade; Putin produziu uma imagem de estadista olímpico que contrasta diametralmente com a mais recentemente construída por Zelensky. O presidente ucraniano ganhou as mídias mundiais realçando a imagem do herói relutante, o cidadão qualquer arrastado por circunstâncias extremas a um momento crucial de vida e morte da Ucrânia e dos ucranianos. Tudo nas performances de Zelensky busca distanciá-lo da pompa e solenidade das lideranças soviéticas e russo-imperiais. O presidente ucraniano veste um agasalho verde cáqui e capricha em um repertório de reações emotivas: angústia, exasperação, luto, tristeza, esperança. Assim como o personagem do Servidor do Povo interpretado por ele mesmo, que na ficção se opunha à casta de políticos profissionais, Zelensky personifica o outsider a romper a armadura de sisudez dos poderes estabelecidos. Ele busca reduzir a distância entre os lugares e discursos de autoridade e a vida da gente ordinária. Zelensky se deixa filmar, com coragem inegável, em fronts quentes da guerra, a céu aberto, falando com soldados de baixa patente e transeuntes. Quando Kyiv era atingida por bombardeios diários, Zelensky fazia lives nas ruas, para tranquilizar a população de que não havia fugido da capital, que estava lá, com eles, na pior hora. O presidente ucraniano visitou também a guerra de trincheiras, a área contestada de Bakhmut, que já foi comparada à Verdun da Primeira Guerra Mundial. O contraste com Putin é total, sempre filmado em desfiles oficiais e bunkers, ou assistindo a exercícios militares de binóculos ou detrás de um vidro blindado. Putin é filmado interagindo com os generais, ministros e altos dignatários, dificilmente com gente comum.

De um lado, Zelensky esbanja empatia ao lamentar as perdas terríveis de vidas ucranianas, chora, se aflige, pede ajuda; do outro lado, com perfil másculo, Putin aproveita cada notícia de baixas pesadas da Rússia para reafirmar como os russos são um povo que sabe sofrer, preparado para tudo, e que nós ainda não vimos nada. É como se Putin representasse o recrudescimento de um imaginário que havia ficado para trás, no século XX, com o dito “fim da história” decorrente do término da Guerra Fria, em 1991. Destoando do autocrata russo, Zelensky canaliza em sua pessoa outro temperamento, o momento antipolítico das multidões indignadas no começo do século XXI, contra as castas em todas as suas manifestações. A imagem do presidente ucraniano, um hit em capas de revistas e jornais de circulação global, condensa iconograficamente a crítica à velha política e às instituições representativas. Na guerra, colidem os dois imaginários: o novo século contra o velho; a Ucrânia do homem comum que pode ascender politicamente pelas redes sociais, contra a Rússia imperial e seus boiardos estatólatras, à moda antiga.

Diante das sucessivas derrotas, Putin e seu estado-maior replanejaram radicalmente a campanha. O escopo se tornou mais humilde, prendendo-se à consolidação dos ganhos territoriais no sul e no leste (Donbas). Em vez de operações relâmpago com tropas de elite e armas de precisão, a Rússia voltou à doutrina de força bruta que lhe rendera vitórias recentes na Chechênia e Síria: massivo fogo de barragem para arrasar o terreno e triturar as áreas urbanas, seguido de assaltos frontais com massas de soldados para tomar as ruínas. Uma sistemática de operações que remonta à Primeira Guerra Mundial, quando a técnica de avanço “lento e seguro” era conhecida por bataille conduite. Ao se redimensionar, as forças armadas da Federação Russa puderam recorrer aos colossais depósitos da antiga União Soviética, inclusive os situados na vizinha Belarus. Ainda que os equipamentos e munições sacados dos antigos armazéns sejam inferiores ao padrão Otan que vem sendo fornecido à Ucrânia, sua descomunal quantidade traz um novo desafio. Agora, o suporte logístico em longo prazo passa a ficar vinculado à vontade política dos países aliados em readaptar seus parques de indústria de defesa, a fim de elevar a meta de produção. Além disso, o regime putinista diversificou os modos de mobilização, empregando como vanguarda da nova onda da invasão exércitos privados de mercenários (grupo Wagner de W. Prigozhin) e grupos étnicos guerreiros (chechenos liderados por R. Kadyrov). Destarte, Putin pode igualmente manter os seus próprios generais sob constante pressão interna, incitando uma rivalidade entre as diversas facções que integram o esforço de guerra da Rússia. A partir de novembro de 2022, graças às adaptações levadas a cabo, as forças armadas da Federação Russa conseguiram estabilizar os fronts, reequilibraram as vontades em conflito, e retomaram parcialmente a iniciativa dos ucranianos. Neste inverno no hemisfério norte, as tropas intensificaram os ataques por todo o front oriental, uma linha de contato com cerca de 1.000 km. Mesmo assim, os avanços ainda têm sido demasiado lentos, custosos e frágeis ante a quantidade de recursos humanos e materiais despendidos no processo. Permutam-se milhares de baixas e equipamentos por apenas alguns quilômetros de terreno conquistado, às vezes, por um único quarteirão ou rua. Claro que os ucranianos também estão sofrendo perdas significativas para conseguir frear a mais nova onda, desviando recursos humanos e materiais que seriam melhor empregados numa nova contraofensiva.

Toda guerra de grandes proporções é uma engrenagem complicada, com muitas variáveis interdependentes, um maquinário mortífero que corre a diferentes velocidades simultâneas. A guerra somente vai parar se alguma engrenagem for emperrada, geralmente por uma combinação de causalidades. Podemos depreender das principais análises quatro hipóteses possíveis para emperrar a máquina. A primeira hipótese seria ruptura da correia de transmissão entre a população russa, o regime e o próprio Putin, como já abordamos acima. A menos que seja substituído por um grupo político ainda mais extremista, a nova elite tende a descarregar a culpa da derrota na pessoa do autocrata e negociar uma saída com os ucranianos e seus aliados. Uma segunda hipótese seria a deterioração do apoio concedido aos ucranianos pela Otan, que até pouco tempo fora a principal aposta de Putin. Dentro dessa estratégia, as estatais de gás e petróleo da Rússia tentaram congelar as populações europeias no inverno, mediante o corte do abastecimento do gás natural. Hoje já ficou claro que não funcionou, ainda que tenha gerado algum aumento da inflação. O bloco europeu se concertou com sucesso para diversificar o mix de fontes e otimizar os mecanismos de oferta e demanda. Uma terceira hipótese de travamento da guerra se daria pelo desgaste crítico dos dois lados. É o cenário dito “coreano”: ambos os contendores exauririam suas energias de combate, levando a uma situação de conflito congelado, com uma paz precária, armisticial. Isto, contudo, ainda pode tomar dois ou três anos. Uma quarta hipótese, alusivamente pacifista, se resolveria mais rápido, com a cessão imediata de territórios ucranianos à Rússia e a declaração perpétua de neutralidade, em troca de garantias de segurança por parte de ambos. Os EUA e a China poderiam ser os fiadores do acordo de paz, levando ao reconhecimento pela comunidade internacional. As correntes pacifistas que trabalham nesses termos terminam promovendo a nova agenda putinista, visto que seu plano operacional agora consiste precisamente em consolidar os territórios ilegalmente ocupados, angariando algum tipo de reconhecimento internacional. Além disso, há um curto-circuito lógico no argumento, uma confusão entre consequência e causa. Foi a ilusão de poder negociar com Putin e confiar nele ao longo das últimas duas décadas, isto é, de domesticá-lo através do comércio (Wandel durch Handel), que terminou por legitimá-lo em suas pretensões revisionistas e expansionistas – o que contribuiu para conduzir à escolha da guerra e não o contrário. Foi exatamente a aposta “pacifista” lá atrás, que garantias de segurança oferecidas pela Rússia seriam suficientes para salvaguardar a independência de uma Ucrânia desarmada, que no final se revelou uma armadilha, deixando a Ucrânia à mercê do invasor traiçoeiro. Os pacifistas contemporâneos contornam o fato que a paz não é uma batata, mas uma construção material, ela própria uma luta dentro da luta.

A Ucrânia e a crença nos horizontes de transformação

Em A grande ilusão, escrito às vésperas da Primeira Guerra Mundial, Norman Angell argumenta como uma guerra mundial entre as grandes potências não faria o menor sentido, diante da matriz interdependente da globalização capitalista. Porque o capitalista não tem pátria, então as consequências econômicas da guerra exerceriam uma contenção estrutural, barrando qualquer escalada de ideologias nacionalistas e irredentistas. A riqueza e a produção no capitalismo, afinal, estão fundadas na alavanca do crédito e na confiança nos contratos, dois elementos que evaporam numa situação de guerra e insegurança geral. Em 1914, contudo, eclodiu a Grande Guerra.

Faltou ao autor, talvez, considerar um sujeito oculto na análise: as multidões exploradas, a fragmentada força de trabalho global, submetida ao perene conchavo entre os vários estados capitalistas e suas partilhas de zonas de influência. Se a Grande Guerra começou como um conflito entre impérios, terminou como abertura de brechas revolucionárias, a partir da Rússia de 1917, depois irradiada para a Alemanha e a Hungria. A revolução de 1917 não pôs em risco tanto a matriz horizontal das trocas globais, mas sua verticalidade pressuposta, aquela entre proprietários e sem propriedade.

Dito isto, a nossa situação, na globalização capitalista de 2023, está invertida. A guerra entre Rússia e Ucrânia, que exacerba a precedente guerra do Donbas (2014-22) e a anexação da Crimeia, e que gradualmente se mundializa com o envolvimento de apoiadores lá e cá, é também a ponta de um arco que se iniciou na Ucrânia com a Revolução da Dignidade, em 2013-14 – ela própria uma expressão local de um vasto ciclo de lutas da década passada, englobante das múltiplas primaveras árabes, Occupy Wall Street, Movimento 15-M e protestos em massa na Turquia, no Brasil e em Hong Kong. A invasão da Ucrânia pela Rússia há um ano é o último capítulo da história de uma contramarcha, uma contrarrevolução generalizada. Ela busca restaurar a ordem e os valores duros abalados pelos tumultos na crise do capitalismo – o verdadeiro cristianismo, a família nuclear, a pátria-mãe, papéis fixos de gênero.

Com isso, é deslocado o antagonismo entre explorados e exploradores, na direção de um conflito de civilizações, que tanto se manifesta em guerra interestatal entre o Ocidente e seus descontentes, quanto numa clivagem interna aos países, por exemplo, entre Biden e Trump, ou – sem encaixe perfeito – entre Lula e Bolsonaro. O paroxismo dessas divisões internas e externas entrecruzadas poderia vir a se tornar o embate entre o bloco ocidental encabeçado pelos Estados Unidos e as democracias liberais, e o bloco euroasiano, com a poderosa China à vanguarda e o propalado “Sul Global”, Brasil incluso, a reboque. O que havia começado a Primeira Guerra hoje está no final da história, como se estivéssemos rebobinando o breve século descrito por E. Hobsbawm, voltando assim à era dos impérios, da partilha das colônias pelas metrópoles, sem espaço para tertium genus. Como proclamou chauvinisticamente o mesmo Putin: não sejamos “ingênuos”, ou se é um estado soberano, ou se é colônia, na qual só se pode ser cidadão de segunda classe.

Como iniciei este artigo, o fato decisivo e essencial na guerra na Ucrânia foi a resistência ucraniana, em boa medida surpreendente, que impediu que o governo Zelensky tivesse sido derrubado e Kyiv caído nas mãos dos putinistas. Essa resistência implica um devir mundial, uma brecha diante das forças centrípetas de clausura dos ciclos de primaveras e das potencialidades da interdependência da globalização. A seguir, as vitórias da guerra popular e assimétrica contra o invasor nutriram os sonhos de uma Ucrânia independente da Rússia, assim como de uma Rússia sem Putin. Podem reavivar as resistências na Síria, no Irã, no Curdistão, na Palestina, mas também reforçar as mobilizações contra a ascensão das direitas reacionárias – trumpistas, bolsonaristas, europeias xenófobas.

Nenhuma paz vai ser duradoura, isto é, justa, que não tenha sido participada pela força real e moral das resistências – sobretudo na Ucrânia, mas também nos movimentos e ativistas antiguerra, todos clandestinos, na Rússia e Belarus. O caminho é árduo para defletir as tendências de fechamento de horizontes de transformação, com novos czares a leste e a oeste, e nenhum terreno para as lutas. Devemos aos ucranianos a crença de que ainda é possível.

Autor

  • Autor de A multidão foi ao deserto (2013). Com Alexandre F. Mendes, publicou A vida dos direitos, ensaio sobre violência e modernidade em Foucault e Agamben (2008) e A constituição do comum (Revan, 2017). Organizador de Amanhã vai ser maior (2014), Podemos e Syriza; experiências democráticas no século 21 (2015) e A terra treme, leituras do Brasil de 2013 a 2016 (2016). Publicou New neoliberalism and the Other (2018), Enigma do disforme (2018) e A vida da moeda, com Giuseppe Cocco. É graduado em Engenharia pelo Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA) e Direito pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), mestre em Direito na linha de pesquisa Teoria e Filosofia do Direito (UERJ).

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