Pierre Bourdieu

Pierre Bourdieu nasceu em Denguin, França, em 1 de agosto de 1930 e faleceu recentemente em Paris, a 23 de janeiro de 2002. Estaríamos comemorando, portanto, seu aniversário de 79 anos. Na École de Sociologie du Collège de France foi sagrado um dos grandes intelectuais de seu tempo. É um dos autores mais lidos, hoje, nas áreas de Antropologia e Sociologia. Falarei especificamente, aqui, um pouco de seu trabalho em Sociologia da Educação.

Para um ramo da Sociologia da Educação, explicar o motivo de sucesso ou fracasso escolar de um aluno é tentar elucidar de que forma ele é levado a ocupar determinada posição no espaço escolar. Esse é o alvo das chamadas Sociologias da Reprodução, que se desenvolveram de diferentes formas, nos anos 60 e 70, sendo um de seus nomes mais ilustres o francês Pierre Bourdieu (1930-2002), que junto a Jean-Claude Passeron, em 1970, foi autor de A Reprodução, senão a principal, uma das principais obras que existem no assunto. Nessa linha, também temos trabalhos de Christian Baudelot e Roger Establet (L’école Capitaliste en France, 1971). Bourdieu tem por destaque as reflexões do sobre a relação entre herança familiar (acima de tudo, cultural) e desempenho escolar, além de estudos sobre o papel da escola na reprodução e legitimação das desigualdades sociais.

Em Bourdieu, podemos encontrar essa abordagem em sua forma mais apurada. Para compreendermos as posições escolares dos alunos e, pois, suas futuras posições sociais, é preciso compará-las com as posições sociais dos pais. De forma mais precisa, temos que Bourdieu reflete em termos de diferenças: as diferenças de posições sociais dos pais correspondem às posições sociais diferentes dos filhos e, posteriormente, diferentes posições sociais desses na vida adulta. Há, portanto, reprodução de diferenças. A pergunta que nos cabe é: como se dá essa reprodução? Bourdieu responde-nos que as diferenças de posições dos pais tem por correspondente as diferentes posições que os filhos ocupam na escola, fruto de disparidades de “capital cultural” e de habitus (disposições psíquicas), de forma que os próprios filhos ocuparão posições diferentes no âmbito escolar.

Ao formular respostas para os problemas das chamadas desigualdade escolares, Bourdieu abriu precedentes não só na área da Sociologia da Educação, como também em toda a reflexão sobre Educação. Na maior parte do século XX, muitos pensavam que, por meio do acesso ao ensino público e educação destinada a todos seria garantida a igualdade de oportunidades entre os cidadãos. Aqueles que se destacassem por suas capacidades avançariam de forma justa em seus estudos e, depois disso, ocupariam posições hierarquicamente superiores. A escola, nesse contexto, encaixava-se como instituição neutra, disseminando conhecimento racional e selecionando racionalmente seus alunos. Nessa visão, podemos dizer otimista, da escola e da sociedade, a escolarização tornava-se principal meio de superação da sociedade tradicional, econômica e tecnologicamente atrasada e autoritária, em vistas de uma sociedade meritocrática, democrática e moderna. A partir dos anos 60, o que se vê é uma crise e a consequente revisão dessa concepção, em que papel do ensino na sociedade é reinterpretado. A postura, a partir daí, é mais pessimista. Tornou-se essencial reconhecer que o desempenho escolar não dependia, apenas, da capacidade individual, ou dom, mas da origem social dos discentes. Do mesmo modo, a massificação do ensino e seus resultados cooperou para a mudança no olhar sobre a Educação. Devemos, considerar, também, a relação, na França, entre o diploma escolar e seu retorno no sentido de poucos ganhos no mercado de trabalho (desvalorização dos títulos escolares). No pós-guerra, ampliou-se também o acesso à universidade, mas os setores menos abastados da sociedade ainda viam desenganados a possibilidade de ascensão social por meio do ensino. Nesse contexto, as críticas ao sistema de escolar só aumentavam.

Bourdieu, então, apresenta nos anos 60 um novo modo de interpretação da escola e da educação que, naquele momento, supria as explicações e respostas que todos procuravam. A partir de sua pesquisa, formula uma teoria baseada em dados que afirmavam relação estreita entre desempenho escolar e origem social, negando o modelo funcionalista.

O teórico reconhece reprodução e legitimação das desigualdades sociais onde antes observava-se igualdade de oportunidades e justiça social. A educação, para Bourdieu, passa a ser vista como uma das principais instituições em que se legitimam os privilégios sociais. Invertendo totalmente os paradigmas, o sociólogo oferece uma nova perspectiva teórica para a análise da Educação, na qual a crise de confiança no sistema de ensino ganha nova leitura.

A Sociologia de Bourdieu compõe, hoje, 43 anos depois de sua primeira publicação Les heritiers, um dos cernes na interpretação sociológica da educação. O reconhecimento do alcance de seus estudos, contudo, não nos impede de pensar sobre suas limitações. Um dos estudiosos que hoje refletem sobre o tema é Bernard Charlot, que mesmo reconhecendo a qualidade teórica dos escritos de Bourdieu, vai além das considerações sobre reprodução e diferença no contexto escolar.

Bourdieu deixou-nos por legado o respaldo necessário para a cisão com a ideologia do dom e com a noção de mérito. A partir do sociólogo, tornou-se cada vez mais difícil, senão impossível, o estudo das desigualdades escolares como produtos das diferenças existentes entre os indivíduos. As limitações dessa abordagem, no entanto, podem ser vistas quando procuramos o entendimento de casos particulares (famílias, pessoas, instituições e docentes concretos). Bourdieu, enfim, nos muniu com um respeitável estudo macrossociológico sobre as relações sistema de ensino / estrutura social. Sua herança não faz menos necessário, hoje, ampliar os estudos com análise das diferenças sociais entre famílias e contextos de escolarização, além de estudo meticuloso dos processos de composição e emprego do habitus familiar.

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