20 de julho de 1969

O dia em que o homem pisou na Lua,
estávamos na sala, diante da tevê,
na expectativa do grande momento.
No entanto, a minha emoção era outra:
eu tinha no bolso um poema — para Laís.
Enquanto papai falava sobre a importância
da conquista espacial, eu o recitava em silêncio,
completamente alheio ao significado histórico.
De repente, mamãe viu a ponta da folha de caderno:
— O que é isso no bolso da tua camisa?
— Não é nada — respondi, encabulando.
Ela então fez um olhar severo, exigindo que eu
lhe entregasse aquilo. Em seguida, achando muita
graça, se pôs a declamar o poema; agora, eu não
reconhecia mais as minhas próprias palavras.
Ditas assim, naquele tom absurdo e ridículo,
despiam o meu amor da sagrada emoção.

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