Editorial – Junho-Agosto/2023

Ao estudar os fenômenos, o filósofo Gaston Bachelard buscou revelar as estruturas e significados subjacentes que emergem da interação entre a mente e o mundo. Logo, para Bachelard, o fenômeno é um objeto de estudo complexo que requer uma abordagem ativa/dinâmica e reflexiva. Ele enfatiza a importância da imaginação, da subjetividade e da reflexão na compreensão dos fenômenos e na construção do conhecimento.

Já outro filósofo, Maurice Merleau-Ponty, enfatiza que o fenômeno não deve ser reduzido a uma mera aparência ou ilusão, mas sim deve ser entendido como a manifestação sensível da realidade. Para Merleau-Ponty, o fenômeno é o ponto de partida para a compreensão da existência humana e da relação entre o sujeito e o mundo. Ele destaca a importância da experiência perceptiva como um fenômeno fundamental para a compreensão da realidade e da nossa própria existência.

Seja qual for sua escolha hermenêutica; você, pessoa real que nos lê, perceberá que a 10ª edição da Úrsula é um fenômeno. Começando pelos perspicazes contos selecionados pelo Criadouro. Siga o fio da imaginação humanística de Lygia Fagundes Telles pelas linhas e agulhas de Heloísa Iaconis. Já Bruna Maia nos conta, em ótima entrevista, como o real e o imaginário, unidos, inspiraram sua obra. E Anna Kühl relata os labores e dessabores da produção cultural.

Saindo um pouco do fantástico; Úrsula também lhe traz realidades da nossa existência. Inúmeros são os desafios econômicos enfrentados pelo governo Lula para pagar as contas deixadas pelos infantis neoliberais. E a forma de pagar a conta não seria mais, digamos, digestiva, se o próprio governo Lula não tivesse um olhar mais maquiavélico para a situação? E o que é pensar em uma economia para os pobres?

Realidade tanta, que bate aos nossos olhos, nas tocantes palavras de Lorrayne França em, e, para Alzira Rufino, presente. Realidade tanta, que espanca corpos, de maneira vil, racista e estruturada. Realidade tanta, que polui e acaba com a água. Realidade tanta, onde os seguidores de um certo deus são demônios.

Por fim, lembre-se, como se um fenômeno fosse, de que manifestos podem ser o começo de algo maior.

Agora me despeço, já me alonguei por demais.

E sim, ainda tem muito mais. Navegue conosco por todas as fenomenais páginas de Úrsula.

Autor

  • Meu diploma diz que sou biólogo. Minha curiosidade sobre documentação me disse para procurar a graduação de Biblioteconomia. O futuro imaginado vislumbrou um biobliotecário. Enquanto o futuro não chega, você pode me encontrar na Biblioteca Central César Lattes da Unicamp (eu trabalho lá!) para conversar sobre o que você quiser, sou muito curioso (e às vezes não falo tanta bobagem).

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