Não critiquem o crítico

Em um texto pessoal, Luana Monteiro dialoga com os críticos de teatro Sebastião Milaré e Barbara Heliodora para defender a arte bem feita

Não consigo pensar em um “artista” que crie arte sem o conhecimento dessa arte. A cultura dentro do meio artístico é essencial para a formação de um artista de verdade, seja qual for a linha que siga. Não posso imaginar assistir a uma peça de teatro e ver que o ator não assimila e não conhece o personagem que interpreta. E por diversas vezes presenciei falta de compreensão do ator com relação a peça e ao autor… um despreparo total diante daquilo que ele escolheu como trabalho. Isso é uma falta de respeito para com o público e também para com o diretor/dramaturgo. Todo método deve ser estudado e analisado para que se desenlace um espetáculo digno de platéia, de elogios e admiração do público pagante — e do crítico — ah, o crítico…

“Passar a mão na cabeça não é positivo para o teatro” – Barbara Heliodora

Eu conheço muitos artistas que abominam o crítico, e raro são os que aceitam a crítica de bom grado, útil para a sua evolução como veículo cultural, como se fosse o artista um médium, doando seu corpo fluídico para o espectro do personagem aparecer e encantar o público. Penso que todo artista deveria olhar o crítico como um “médium de apoio” e não como um “exorcista”, pois sua opinião é indispensável para a cultura dramática.

A característica e objetivo desse olhar “crítico” do crítico é o que o afasta do criador cênico para aproximá-lo daquele que lê sua coluna no jornal. Sintetizando, somente o leitor seria o interlocutor do crítico, dificilmente o artista. Fato que leva a crer que a crítica ruim do espetáculo determinaria o fracasso do mesmo; assim como a crítica boa lotaria uma peça. Concordo quando Sebastião Milaré diz: “Crença que, é negada pela realidade: muitos espetáculos francamente repudiados pela crítica tornam-se triunfos de bilheteria e outros, elogiados pela crítica, ficam com as salas vazias de espectadores. Então, a crítica é uma inutilidade?”.

Repito: é inútil?

O crítico age como uma plateia “severa e calculista”. Não pense que ganhará elogios, só por que se esforçou, doou seu sangue, chorou e se emocionou, sentiu o público chorar e rir junto… porque para o crítico não basta. Ele vê o espetáculo como um pensamento transformado em imagens, sons, movimentos, luzes — e discute esse pensamento. O que tem que mudar é a afinidade crítico e artista, cuja problemática está na imagem que cada um faz de si mesmo e do seu trabalho. No contexto do teatro atual, novos campos e novos espaços se abrem onde a atuação do crítico está mais próxima à do criador, estabelecendo novos modos de pensamento, formação e de diálogo.

“O problema do Brasil é que em tudo nós precisamos deixar de ser amadores para ser profissionais” – Barbara Heliodora

Também já a necessidade da evolução do espectador. É importante se inteirar dos fatos, da peça; e ler boas críticas, livros e jornais de vários assuntos ajudará esse leitor a se educar culturalmente, desenvolver capacidade analítica, se tornar um investigador, deixando de ser mero “espectador/consumidor”. Sendo capaz de formar sua própria opinião sobre assuntos diversos. Como diz Milaré:

“Creio que a função da crítica teatral neste novo século continua essencialmente a mesma, porém dinamizada e difundida por novos espaços. Justamente esses novos espaços é que devem ser avaliados, otimizados, de modo que a crítica possa readquirir seu sentido didático, provocador e criativo.”

O fato é que considero que todos os envolvidos em espetáculos devem respeitar o teatro. O crítico respeita o ator e acha que ninguém tem direito de fazer espetáculos mal acabados e mal direcionados.

Segundo a crítica Bárbara Heliodora, “a auto-indulgência é muito negativa”. Heliodora diz, e eu concordo, que ver ou ler uma coisa ruim e elogiar é estimular o ruim a se perpetuar, por isso acho que os jovens artistas, mesmo os que ainda estejam no início e os velhos também, que procurem sempre o melhor, se superar, crescer como ser humano e artista.

Mesmo que eu não seja uma especialista, por estar ainda muito pouco envolvida no meio artístico (se envolver artisticamente é sempre pouco, devemos estar sempre nos envolvendo), respeito esse meio. E, por ter um olhar analítico, ou seja, estou de fora da cena, acho que posso mudar algo, a forma de pensar de alguns. Espero que pelo menos meus leitores artistas pensem: “Espera aí, talvez tenha alguma coisa errada e eu precise agir já!”. Fazer um espetáculo de qualquer modo é o que não pode acontecer. Ainda segundo Heliodora:

“O problema do Brasil é que em tudo nós precisamos deixar de ser amadores para ser profissionais. Passar a mão na cabeça do que é ruim não é positivo para o teatro.”

Reflitam. Vamos crescer como artistas, respeitar esse povo lindo que tem tudo a ganhar, mas perde por não saber para que está ali, por não saber a que veio.

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