Um dia, em pane, de amor dilata

Luciana Crepaldi nos envia uma série de negações do sentir que, por fim, cede

Luciana Crepaldi tem 20 anos de telejornalismo, tendo trabalhado nos canais Bandeirantes, Record, SBT e afiliadas da Globo. Segundo ela, “tenho um interesse profundo pela poesia. Na fila para edição estão uma obra de ficção, um livro de poesias e um infantil”. A poesia que publicamos é uma sucessão de pedidos por uma frieza de espírito, um negar as sensações compenetrado que, por fim, cede.

Dilata

Queria ter
Um coração de lata
Não conhecer o amor
Nem lembrar que os olhos falam

Queria ter mãos de lata
Feitas mesmo de sucata
Não sentir qualquer toque
Nem o corpo que arrebata

Enferrujar na beira de um rio
Não queimar nem sentir frio
Parafusos nas articulações
Fariam melhor que mil tendões…

Queria ter boca de lata
Não dizer palavra exata
Nem profana nem sensata
Não comer macarrão com queijo
Nem jamais sentir seu beijo

Olhos de bola de gude
Enxergar só a superfície de um açude

Em vez de cabeça
Ferro fundido
Em vez de neurônios
Arames farpados
Em vez de abraço
Só o aço

Se eu fosse menos gente
Também escolheria
Óleo em vez de lágrima
Em vez de sangue, graxa
Em vez de corpo, máquina

Mas lá no fundinho
De algum jeito
Desejaria um defeito
Ser uma máquina de lata
Que num dia em pane
De amor dilata…

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