Quem é o público das revistas de cultura?

Quem é o público das revistas de cultura? O que esperam das publicações? Qual sua faixa etária, sua classe social, seu nível educacional? Na tentativa de iniciar uma discussão sobre esses temas — e não de responder de forma definitiva — Capitu publica a opinião de dois profissionais envolvidos com produção de revistas e publicações em geral. O ex-diretor executivo da revista Piauí, Ênio Vergeiro, fala sobre a influência da idade e das aspirações profissionais no consumo de revistas de cultura, e Alcino Leite Neto, ex-editor do Mais!, da Folha de S.Paulo, e responsável pelo site Cronópios, expõe os três tipos de leitor que essas produções encontram. As falas de Neto foram ditas em um discussão promovida pelo Itaú Cultural em 2008, em comemoração ao aniversário da revista Continuum.

Vergeiro define dois tipos de público típicos de uma revista cultural. O primeiro formado de estudantes de universidade e afins, entre 18 e 25 anos. O segundo, por consumidores de 35 anos e acima dessa faixa. O hiato entre as duas constantes se explica porque, entre 25 e 34 anos, o indivíduo se interessaria menos por esse tipo de assunto porque estaria focado na vida profissional. Os dois tipos de público teriam um “bom nível financeiro”, para sustentar a compra da revista e dos produtos culturais tratados nela.

Na pesquisa editorial realizada para a implementação de Capitu, se aferiu que há atenção a essas revistas em todas as idades, com maior alcance entre os jovens: 77% dos entrevistados de 18 a 25 anos comprariam uma revista cultural; de 26 a 35, 69%; de 46 a 55, 68%. 36 a 45. 67%. Acima de 56 anos teve a menor marca, 32¨%. No quesito escolaridade, a maior proporção foi entre entrevistados de nível superior, com 62%, seguido pelo ensino médio, com 55%. No quesito renda, a resposta se manteve maior entre os entrevistados com renda de 500 a 1000, 77% e menos de R$500, 69%. O restante se manteve em torno de 50%. A maioria dos entrevistados do sexo feminino compraria uma revista de cultura, com 71% contra 54% do sexo masculino. Essa foi uma pesquisa pequena e atingiu cerca de três centenas de pessoas, em quatro pontos da cidade de Santos.

Alcino Leite Neto parte para uma definição qualitativa deste leitor. Para ele, existem três tipos de leitor e três tipos de revista de cultura, que podem, no entanto, se misturar numa mesma publicação. Segue a descrição completa dos três tipos, por Neto:

Um primeiro leitor é o leitor interessado. Esse leitor deseja informações gerais sobre os eventos e os produtos culturais: coisas que ele possa freqüentar, teatro, cinema, saber se orientar em relação a isso, ou comprar. Esse público quer informações corretas, simples, se possível breves, sobre tudo o que há de mais relevante no mercado cultural do País e também do mundo. (…) Ele quer também informações substanciais que ajudem na sua formação, a fim de que ele possa ter um repertório mínimo, acessórios a esse consumo que ele está realizando. Então, a par das informações práticas, ele deseja ler artigos que enriqueçam seu conhecimento geral sobre os campos culturais. Esse público é muito heterogêneo; uma revista desse tipo precisa atender um consumidor de formação tanto mediana quanto o erudito.

O segundo público, eu chamaria de leitor participante. Trata-se de um sujeito que não só tem interesse nos fatos, nos produtos culturais, mas ele vê a leitura como uma forma de participação no mundo e nos debates públicos. Então, independentemente da linha ideológica desse sujeito, ele tem interesse em artigos que estimulem a sua reflexão a respeito de temas de interesse geral, da saúde, de política, etc. Ele tem uma atitude participativa na leitura; ele busca nas publicações um viés crítico acessível e formativo com o qual ele possa estabelecer diálogo ou contraponto. É um leitor para o qual os fatos concretos e a boa informação de cunho jornalístico é tão importante quanto o debate crítico. Ele não teme ser surpreendido nem contrariado, mas cria um laço de interlocução constante com aquilo que ele lê.

O terceiro tipo de leitor é o mais conhecido: é o leitor especializado. Ele procura nas publicações aquilo que é do interesse dele mais forte. Essas publicações especializadas podem adotar uma linguagem mais fechada ou mais aberta. O problema dessas revistas: quanto mais especializada, ela tem problemas de distribuição, de manutenção, etc. A questão é saber como fazer que continuem existindo com as pressões econômicas que existem sobre elas.

Qual sua opinião sobre esses resultados e definições? Conhece algum trabalho que possa aumentar o alcance da discussão? Comente.

Autor

  • Jornalista formado pela Universidade Santa Cecília. Doutorando e mestre em Ciência da Informação e graduado em Filosofia pela Universidade de São Paulo (USP). Pós-graduando em Filosofia Intercultural pela Universidade de Passo Fundo (UPF). Especializado em Gestão Cultural pelo Centro de Estudos Latino-Americanos sobre Cultura e Comunicação (Celacc), um núcleo da USP. Como escritor, publicou o romance "As Esferas do Dragão" (Patuá, 2019), e o livro de poesia, ou quase, "*ker-" (Mondru, 2023).

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