Por que os sábios do Oriente não criaram a ciência moderna?

De um lado, a tentativa de entender tudo; do outro, a não-ação, o desapego e a virtude

Quando olhamos para a ciência moderna percebemos uma evolução que começou em meados de 1600 com Bacon, Galileu e Descartes. Nesses últimos 400 anos vimos um desenvolvimento extraordinário e hoje vivemos numa era cientifica nunca imaginada. Então me deparo com livros de filosofia oriental que datam aproximadamente 10 mil anos e hoje ainda são usado como guia filosófico também aqui no ocidente.

Se existe a tanto tempo sábios capazes de um pensamento tão refinado, então por que a ciência moderna não nasceu muito tempo antes? Já existia possibilidade para o seu desenvolvimento ter começado muitos séculos antes do nascimento de Descartes. O que diferencia tanto assim a filosofia oriental da ocidental?

Racionalismo X Compreensão

Tudo começou com a filosofia grega 400 anos antes de Cristo, na era pré-socrática nos vimos o nascimento de homens que andavam de túnica e questionavam tudo que existia a sua volta. Com as poucas respostas que tinham conseguiam fazer deduções para que pudesse ser explicado todo o universo.

A ciência nasce no mesmo tempo que esse racionalismo ocidental. Onde antes existia uma compreensão pura e indiferente nasce uma imensa vontade de aprender e explicar tudo sobre a natureza do mundo e do homem.

Parmênides (c. 530-460 a.C.) implicava com as mudanças da matéria, já que tudo que existe sempre existiu a mudança que ele percebia pelos sentidos não seriam reais. Assim se viu forçado a escolher entre sentido ou razão, e escolheu a razão. Aí nasce o racionalismo, crença na razão como fonte primária de nosso conhecimento do mundo.

Demócrito de Abdera (c. 460 a.C. – 370 a.C.) tentou resolver o dilema da mudança da matéria com a teoria de que tudo seria feito de um mesmo matéria infinitamente pequeno e indivisível. Essa partícula ele chamou de átomo.

Ainda mais curioso que todos os anteriores foi Aristóteles (384 a.C. – 322 a.C.), que acabou por desenvolver a ética, política, física, metafísica, lógica, psicologia, poesia, retórica, zoologia, biologia, história natural. Podemos dizer que ele foi o pai da filosofia ocidental, e portanto o criador original da ciência ocidental.

Enquanto isso os orientais permaneciam estudando o desapego, a contemplação, a não-ação, os fluxos inexoráveis da natureza a qual eles poderiam entrar sem que precisasse questionar sua veracidade. Embora existam várias correntes filosóficas que se distinguem em métodos e práticas, a base de todas elas é bem parecida, tendo como principal características:

  • O desapego: “aquilo que tu possui acaba por te possuir”, não existe possibilidade de atingir uma consciência pura de si quando você está preocupado com algo externo a você. Qualquer coisa que você coloca como seu será um fruto de sua preocupação, portanto não deve existir um “ter” ou um “meu”, tudo que é necessário já está dentro de nós.
  • A não-ação: Enquanto temos uma idéia muito forte sobre a necessidade de agir para conseguir uma evolução, o principio da não-ação diz que isso seria uma forma de desperdiçar energia, pois vai de encontro as leis naturais fundamentais. Com uma mente calma percebemos o fluxo natural dos acontecimentos, e em vez de tentar modificar esse curso simplesmente nos jogamos nele para assim agir de acordo com a natureza.
  • A virtude: A busca pelo entendimento da natureza e de si, partindo do desapego e da não-ação cria a virtude verdadeira do homem sábio. Despindo-se de todos os vícios, defeitos e medos finalmente é possível ter um contato com sua verdadeira essência.

A ciência como barreira da evolução humana

Sendo assim não existia nenhuma possibilidade dos sábios orientais criarem a ciência moderna, pois a ciência é um movimento anti-natural, é a tentativa de controlar o fluxo natural dos acontecimentos e a energia que o ser humano gasta para fazê-lo o impedirá para sempre de viver uma vida em acordo com as leis naturais.

A evolução tecnológica avançou impiedosamente em conformidade com o consumismo exacerbado que o capitalismo criou, e hoje não há nenhuma possibilidade de entendermos o que exatamente é o desapego. Os nossos sonhos não são sobre auto-aperfeiçoamento, são produtos, coisas que podemos ter.

A psicologia moderna nos bombardeia com a movimentação incessante, para ela é a inércia da não-ação o grande mal da humanidade, mas na verdade não vê que o grande problema não é o ser, mas como ele foi moldado erroneamente por essa natureza artificial que chamamos de sociedade contemporânea.

Portanto é claro que a ciência não poderia ter sido criada por sábios orientais, a ciência moderna é a prisão mais poderosa de nossa mente. Não há possibilidade de um encontro genuíno com o seu eu verdadeiro dentro de uma sociedade cultivada para o consumo.

Autor

  • Formado em jornalismo, sempre trabalhou com programação. Depois, se especializou em marketing e agora está mais focado na disseminação da magia do caos e da filosofia zen.

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