A Rainha está Morta, Longa Vida à Música!

Entre a raiva e a ironia, músicas inspiradas por Elizabeth II produziram, diante da monarquia e do status quo, contra-narrativas

A rainha Elizabeth II, em 1959

Elizabeth II, nascida em 1926 e falecida neste 8 de setembro de 2022, foi rainha do Reino Unido desde 1952. Entre outros desdobramentos, seu reinado teve impacto na música: a monarca tanto foi celebrada oficialmente nesta arte de expressão (como na composição “Elizabeth II“, escrita por Debbie Wiseman para o seu jubileu de platina), quanto foi tema – e alvo – de artistas com propósitos menos estatais. Rosto do status quo – ela encarnava um sistema de governo conservador, um histórico de guerras e domínio colonialista, uma moral elitista e racista –, sua imagem foi ponto de apoio para a crítica social. Com deboche, ressentimento ou fúria, as canções marcaram sua posição.

A playlist que apresentamos aqui conta um pouco dessa história, indo além das músicas em geral referidas quando se trata desse assunto. Depois de uma abertura instrumental com Queen, Serú Girán, Alexandre Desplat e Mariella Renaud – o que se expressa sobre Elizabeth II nessas composições abstratas? – vêm “Elizabeth, my Dear”, do Stone Roses – em que o vocalista diz que não descansará enquanto ela não perder o trono – e “God Save the Queen”, dos Sex Pistols – a “música que enfureceu a rainha” –, a qual, sempre citada, aqui ganha outra cara, acompanhada pela faixa “Is the Queen a Moron?” – em que a banda tenta explicar a um entrevistador ultrajado que não chamaram a rainha de imbecil – e de outros ataques do punk à monarquia: “Parasite Monarchy”, dos Restarts, e “God Saved the Queen”, do Exploited.

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A crítica nessas canções pode se dirigir exatamente à imagem da rainha – como em “Heatongrad”, de Paul Heaton e Jacqui Abbott, que clama por regícidio – ou se referir a ela para retratar uma Inglaterra problemática – os raps recentes “England’s Ending, de Bob Vylan, e “Nothing Great About Britain”, de slowthai (que canta algo como: eu te respeitaria, Elizabeth, se você me respeitasse), parecem ser exemplos disso, “Repeat (UK)”, rock do Manic Street Preachers, também. Mas não só fúria abrange a playlist: desde a canção ironicamente romântica de Paul McCartney, dos Beatles, à rainha – “Her Majesty” – até uma fantasia dos Pet Shop Boys em que a rainha e a princesa Diana conversam sobre como não existe mais amor no mundo – “Dreaming of the Queen” –, passando pela teoria de conspiração feita trap “Queen Elizabeth is a Lizard”, do MC Ultra!, outros sentimentos e símbolos são manifestados.

Essas 23 músicas são o panorama de disputas políticas e de formas como os artistas lidam com uma figura de autoridade que designa todo um estado de coisas. O que esses versos podem nos fazer pensar sobre o que a Inglaterra e o Reino Unido são ainda hoje e o que podem ser?

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