O poder e a diversidade dos festivais

Isadora Sinay conta aqui sua experiência em um dos festivais mais esperados do ano no Brasil, o Lollapalooza. Cada vez mais frequentes por aqui, os festivais têm arrastado adeptos de todo o país

O Lollapalooza surgiu em Chicago em 1991 e tornou-se nos últimos 20 anos quase um sinônimo de festival de rock. Hoje é um dos mais consistentes eventos do gênero. Esse ano, depois de uma experiência chilena em 2011, o festival chega a São Paulo. Mais coerente e unificado do que o Rock in Rio, maior e menos alternativo do que o Planeta Terra, e com acesso muito mais fácil do que o SWU, o Lollapalooza pareceu ter vindo para suprir um vácuo entre os festivais brasileiros: um festival urbano de rock, que agrega grandes bandas.

Em São Paulo, aconteceu entre nos dias 7 e 8 de abril. A estrutura deixou a desejar, especialmente no primeiro dia, quando houve filas enormes para a entrada e retirada dos ingressos e despreparo dos funcionários para orientar os frequentadores. A música cumpriu seu papel. Arte é arte.

A grande estrela dos dois dias era, sem dúvidas, o Foo Fighters. Uma das bandas mais esperadas no Brasil há anos, o Foo Fighters trouxe clássicos instantâneos e possivelmente o vocalista mais carismático da música atual. Dave Grohl se emocionou, gritou, sentou na bateria (para felicidade dos fãs de Nirvana), fez piada em vídeo, e comandou por duas horas e meia uma plateia que era totalmente sua.

Na segunda noite, consideravelmente mais “indie”, os Arctic Monkeys tocaram seu bem executado rock dançante, mais pesado do que nos álbuns de estúdio, ao som de muitos gritos femininos. Mas talvez a maior graça desses festivais seja a surpresa que as bandas menores apresentam, e nesses dias elas fizeram shows memoráveis.

Os ucranianos do Gogol Bordello já fizeram diversos shows por aqui, mas ainda assim parte do público se espremia na frente do palco e dançava enlouquecidamente em rodas e outras coreografias. Engraçados e excêntricos, eles transformaram a apresentação em uma performance à parte e ganharam os olhares de quem estava ali só por curiosidade (eu entre eles).

O Friendly Fires, que mistura um pouco de rock com batidas mais eletrônicas, tinha plateia pequena, mas mostrou que poderia, tranquilamente, segurar um grande show: as músicas faziam as pessoas dançarem sem parar e o vocalista, com danças e rebolado dignos de um jovem Mick Jagger, arrancou gritos histéricos e causou euforia quando desceu do palco.

A mesma histeria foi causada pelo cantor do Foster the People, que talvez tenha entregado o melhor show da noite. Seu pop-rock se tornou mais animado e as letras eram rapidamente aprendidas pelo público, que cantava em coros impressionantes, dançava e pulava sem parar, quase se esquecendo que eles nem eram a principal banda da noite.

No fim de dois dias houve problemas, mas no geral foi um festival de shows mais que competentes. Foram bandas felizes em estar lá e um público ainda mais feliz pela oportunidade. O que se via, mesmo no último show em que todo mundo já estava sujo, cansado, e com pernas doendo, era um entusiasmo genuíno e muitos gritos de empolgação, provavelmente o espírito que o festival devia mesmo ter.

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