Minhas Mães e Meu Pai

A diretora deixa clara sua mensagem aos críticos das novas formas de arranjo familiar: as crianças estão bem

Minhas Mães e Meu Pai (The Kids Are Allright, no original) talvez faça parte de uma nova leva de filmes em que constituições familiares não-convencionais continuarão a ser tratadas como mote narrativo, mas com mais naturalidade. Ao contrário do francês Baby Love ou do canadense Patrick 1,5 o conflito aqui não está mais no desejo ou na impossibilidade de um casal homossexual criar filhos, mas sim nas novas consequências e relações que essa construção familiar pode acarretar.

Joni e Laser são adolescentes saudáveis e bem ajustados que foram criados por um casal de mulheres. Porém, Laser deseja entrar em contato com seu doador de esperma, seu “pai biológico”. É a partir daí que se desenvolve o filme de Lisa Chodenko, mais conhecida por seu trabalho em séries de televisão como A Sete Palmos e The L World. A entrada de Paul desestabiliza a família justamente por inserir um elemento “não-convencional” no que era uma família quase dentro dos padrões: uma das partes trabalha como médica, a outra é responsável pelas crianças, que são educadas dentro de rígidos padrões de exigência comportamental e acadêmica. O casamento é de certa forma morno e as crises conjugais são realistas.

Assim, o maior mérito de Minhas Mães e Meu Pai parece ser justamente o trabalho de manipulação dos estereótipos: eles estão lá de alguma forma, mas não como se espera. Jules e Nic são um típico casal de subúrbio americano e seus filhos são típicos adolescentes bem educados. Paul é um típico solteirão e, previsivelmente, a descoberta de seus “filhos” fará com que ele repense sua vida até então. Paul, não as mães, é o elemento estranho e sua entrada desestabiliza a harmonia familiar fazendo com que todos analisem suas relações percebendo o qual natural e único é o que estão fazendo.

A narrativa, embora não conte com grandes viradas ou surpresas, passa longe do superficial ou do que inicialmente se espera. O que se vê é um filme nos moldes do cinema independente americano atual, com diálogos e personagens bem construídos em uma perspicaz crítica do cotidiano. Mas há algo a mais, e isto reside exatamente na recusa do filme de tratar seus personagens como caricaturas: ainda que sejam típicos, eles são complexos e multidimensionais.

Há sem dúvida uma parcela de irrealidade na obra: o subúrbio é por demais idílico e o casal parece viver perfeitamente integrado. Não há de qualquer forma conflitos ligados à homossexualidade das mães e às crises pelas quais passam os filhos não diferem na de qualquer adolescente.

Dessa forma, Minhas Mães e Meu Pai esforça-se por tratar um tema ainda novo como se fosse algo já visto e talvez peque pelo excesso de inocência em relação a capacidade humana de adaptação. Contudo, o filme não deixa de ser um retrato bem feito e inteligente da contemporaneidade e a diretora deixa clara sua mensagem aos críticos das novas formas de arranjo familiar: as crianças estão bem.

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