Daniela Thomas: Teatro + Cinema

A cineasta transita entre as artes e se destaca em ambas

O grande fracasso da carreira de Daniela Thomas aconteceu em 1981, quando não conseguiu vender seu média-metragem de estréia, no qual gastou todo o dinheiro emprestado pelo pai Ziraldo. Depois disso, deixou o cinema de lado indefinidamente para trabalhar em teatro. Tornou-se um nome respeitado na área da cenografia e, vinte anos depois, voltou a se dedicar à sétima arte, junto de um dos cineastas brasileiros de maior renome da atualidade, Walter Salles. Em cada um desses momentos de sua vida, Daniela Thomas, hoje com 50 anos, conseguiu deixar sua marca.

Ela se interessou por cinema assim como qualquer um, hoje, pode se interessar: vendo filmes. Daniela relembra as várias “sessões coruja” que assistia com o pai na cidade onde viveu, Caratinga, no interior de Minas Gerais. Assim como todo jovem criado nos anos 40, Ziraldo estava acostumado às grandes produções hollywoodianas, e fazia questão de passar seu conhecimento à filha. Quando completou 19 anos, Daniela foi a Londres para estudar inglês por seis meses. Acabou ficando lá por nove anos, quando estudou cinema e entrou em contato com gente da área. Foi durante essa época que pediu ao pai por um adiantamento de sua herança para financiar seu média-metragem, que não vendeu.

A partir do contato com o diretor de teatro Gerald Thomas, com quem foi casada, iniciou-se na cenografia teatral, em um processo que a transformaria em uma das mais destacadas da área dos anos 80. Seu primeiro trabalho foi em All Strange Away, de Samuel Beckett, no Teatro la Mama, em Nova York. Ela lembra até hoje da sua primeira criação: um cubo formado por espelhos em todos os seus lados. A partir da ilusão de profundidade e confusão com reflexos, o cenário torna-se um agente ativo na construção ou desconstrução do enredo.

Em 1985, voltou ao Brasil, dando continuidade ao seu trabalho de cenógrafa. Daniela Thomas desenvolveu um método de tornar a passagem de cenas mais dinâmica, criando cenários paralelos no palco, utilizando-se de luz para destacar e encerrar uma cena. Entre os diversos trabalhos estão A Trilogia Kafka (da Companhia de Ópera Seca), Mattogrosso (de Gerald Thomas e Philip Glass) e The Flash and the Crash Days – Tempestade e Fúria (com Fernanda Montenegro e Fernanda Torres).

O retorno ao cinema aconteceu aos poucos. Começou (ou recomeçou) como diretora de arte em uma produtora de vídeo, onde conheceu o diretor Walter Salles. O cineasta a chamou, então, para fazer a direção de arte de seu próximo filme, Terra Estrangeira. Daniela acabou colaborando com o roteiro e, por fim, co-dirigindo o filme com Salles. A parceria dura até hoje, e já rendeu filmes como Somos Todos Filhos da Terra (1998), O Primeiro Dia (1998), um dos curtas da antologia Paris, te Amo (2006. Daniela foi responsável pelo segmento Loin du 16ème), e Linha de Passe (2008), que rendeu à atriz brasileira Sandra Corveloni o prêmio de melhor atriz no Festival de Cannes.

A habilidade de Daniela Thomas como cenógrafa ainda foi requisitada em um trabalho não tão convencional: o de montar um museu diferente. Com ênfase no dinamismo e na interatividade, o Museu do Futebol, que fica no estádio do Pacaembu, acabou sendo o motivo que a afastou das gravações de Insolação, longa-metragem que iria dirigir com o dramaturgo Felipe Hirsch. Outro trabalho semelhante foi feito na exposição sobre Clarice Lispector no Museu da Língua Portuguesa na Estação da Luz. Lá, inclusive, Daniela teve a chance de utilizar mais uma vez o cubo de espelhos, sua primeira criação, fazendo alusão ao medo que Clarice tinha do infinito.

Para uma platéia cheia de cineastas em potencial, as recomendações de Daniela eram bem simples: ser curioso e nunca deixar de aprender. Permanecer em contato com a arte, seja qual forma dela, é o caminho para ser um artista melhor. O cinema, por exemplo, pode ser aproveitado em sua plenitude em qualquer momento. Para ela, a maior “mágica” da sétima arte está em sua atemporalidade: “É um sonho que se materializou e estará aí para sempre”, diz.

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