Amor sem Escalas

Ainda que o filme carregue o otimismo de Juno, a história está ambientada em um mundo por demais pessimista para que finais felizes aconteçam

Jason Reitman tornou-se um diretor conhecido por Juno, sucesso independente de 2007, no entanto este Up in the Air vem na esteira de seu menos badalado, mas mais mordaz, Obrigado por fumar. Se a tradução brasileira do título (Amor sem escalas‘) nos faz esperar por uma comédia romântica em que o eterno solteirão George Clooney encontrará o amor de sua vida a primeira investida do diretor no mundo corporativo americano indica algo mais.

O filme traz como personagem central Ryan Bingham (Clooney), cujo trabalho é viajar pelos Estados Unidos despedindo pessoas com um discurso vago e ‘motivacional’ sobre o futuro que as espera. Ryan se sente em casa nos aeroportos, hotéis e aviões e, não por acaso, também dá palestras motivacionais em que incentiva seus espectadores a se livrarem de todos os laços, materiais e imateriais.

Em determinado momento, Bingham será confrontado com uma jovem de sua empresa que implementa demissões por videoconferência, método que eliminaria a necessidade de um empregado como ele, terminaria com seu estilo de vida nômade; levando-o a refletir sobre noções ‘comuns’ de felicidade e compromisso, as quais ele decidirá aceitar. Mas ainda que Reitman carregue o otimismo de Juno e o filme apresente uma virada no personagem típica dos romances hollywoodianos, a história está ambientada em um mundo por demais pessimista para que esse tipo de final possa acontecer. Bingham será condenado a sua vida só e errante.

Dessa forma, está aqui a crítica do mundo empresarial americano que parece típica ao diretor: as palestras ‘auto-ajuda’, a acumulação desenfreada (simbolizada pela obsessão de Ryan em conseguir 10 milhões de milhas aéreas), a padronização e os discursos vagos como forma de alienação (ninguém é ‘demitido’, mas sim ‘liberado para um futuro mais satisfatório’). No entanto Amor sem escalas carece da acidez e ousadia de Obrigado por fumar, que como primeiro trabalho de um diretor estreante carrega em si uma dose de impoliticamente correto e hipocrisia que torna o filme uma lâmina afiada, enquanto aqui mais do que a ironia sobressai um olhar melancólico sobre o que a América (e o mundo) está se tornando.

É inegável, porém, o ótimo uso que Reitman da linguagem cinematográfica. A decupagem e montagem precisas criam o mundo metódico e exato do personagem principal, enquanto o auge da crise econômica se coloca como pano de fundo sem nunca ser mencionada. Reside neste domínio da linguagem o ponto alto do filme. O diretor parece ter encontrado seu tom e estilo, conjugando elementos de seus díspares filmes anteriores e tornando clara sua visão de mundo enquanto insere ferramentas que garantem a Amor sem escalas um público razoavelmente próximo de Juno, além de indicações aos principais prêmios do cinema, com Clooney como um dos favoritos para o Oscar de melhor ator. Ao final é uma crítica ao mundo corporativo, mas talvez mais fortemente, uma crítica ao tipo de pessoas que este mundo cria.

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