A Dança como um Desafio

Pessoas com deficiência ultrapassam barreiras em busca da realização pessoal

Para quem enxerga, ouve e anda é relativamente fácil compreender a linguagem da dança. Mas para quem possui algum tipo de deficiência física, é preciso contar com um profissional dedicado e qualificado para isso.

Foi nesta busca, por novos desafios e pela arte da dança, que a professora Rita Camilo começou a dar aulas para cadeirantes em 2000, quando duas pessoas a convidaram para coreografá-las. “Foi motivante, apesar da falta de experiência com cadeirantes, aprendi muito. Durante o processo criativo da montagem coreográfica, as direções e dicas partem mais dos bailarinos. Eu aprendo mais com eles do que eles comigo”, revela.

Os cadeirantes exploram ao máximo sua mobilidade e também suas limitações, mas a essência de cada um, e a liberdade da dança permite a eles transmitir força e alegria com precisão.

É nestas experiências que podemos perceber que a dança é muito mais que movimentos perfeitos, grandes saltos e giros. A arte da dança está presente nos sentimentos que transmitimos. Rita conta que “a técnica desenvolvida com esses bailarinos é fazer brotar do coração a arte de dançar, muitas vezes o cadeirante expressa mais sua essência com o olhar e sentimento”.

Esta coragem de encarar desafios na transmissão de sua arte também invadiu a vida de Fernanda Bianchini Saad, 30 anos, presidente da Associação de Balé e Artes para Cegos e professora de ballet clássico para deficientes visuais.

Sua trajetória começou quando tinha 15 anos, ao receber um convite para realizar um trabalho voluntário no Instituto de Cegos Padre Chico. “Meus pais, que estavam comigo no momento, me disseram: nunca diga não a um desafio, pois são sempre destes que partem os maiores ensinamentos que temos na vida”, conta Fernanda que depois, em parceria com pais e alunos, fundou a Associação há 15 anos.

Os desafios e barreiras são iguais tanto para o cadeirante quanto para o deficiente visual. Ambos precisam aprender como superar suas limitações e usar sua sensibilidade. “Ao longo destes anos desenvolvemos um método através do toque e da percepção corporal. Há um reconhecimento prévio do espaço. Eles fazem os ensaios necessários para sentirem-se seguros e na apresentação, da coxia, as professoras dão as orientações necessárias”.

Autoestima e autoconfiança

É visível a importância da superação dos desafios. As bailarinas melhoram seu relacionamento com o mundo e consigo. “Elas adquirem mais equilíbrio e postura, além de restabelecer a autoestima e autoconfiança”, explica Fernanda Bianchini.

É evidente que estas pessoas podem ir mais além que apenas melhorar seu corpo e seu bem-estar. Provam para elas e para os demais que nada é impossível para quem tem força de vontade e acredita em um sonho. “Ao assistirem aos espetáculos todos podem ver o quanto elas são profissionais e recebem o verdadeiro merecimento. Gosto que elas sejam aplaudidas pela qualidade do trabalho e não pela deficiência”, exalta Fernanda.

Tanto Rita Camilo quanto Fernanda Bianchini continuam com seu trabalho e colhendo os mais belos frutos. Elas também merecem o aplauso sincero e o reconhecimento por um trabalho que vai muito além de profissionalismo. Elas também superaram seus limites!

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