Sonia Guajajara: “Queremos um Modelo que Respeite as Pessoas”

imagem destacada: fala de Sônia Guajajara em Paraty | crédito: Duanne Ribeiro

Vice-candidata à presidência da República na chapa do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), com Guilherme Boulos à frente, Sonia Guajajara é líder indígena, formada em letras e enfermagem, com pós-graduação em educação especial. Na semana passada, a presidenciável participou da mesa “O Que os Indígenas nos Ensinam com 518 Anos de Resistência”, realizada pela Festa Literária Pirata das Editoras Independentes (Flipei), paralela à Festa Literária Internacional de Paraty, a Flip. Na ocasião, ela conversou com Úrsula e falou sobre o que significa a sua candidatura em um país como o Brasil.

Em um país que só elegeu um deputado federal indígena — Mário Juruna —, a sua candidatura parece simbólica. Como você vê isso?

Essa candidatura é muito mais do que simbólica, ela é histórica e carregada de significados — de luta, de opressão, do extermínio dos nossos povos e de negação de direitos. Com base em tudo isso, a gente entra não só para ter uma composição numa chapa, mas para a gente de fato começar a ter um protagonismo, agir a partir da nossa própria história. Vir contrapor todas as forças reacionárias e também apresentar uma alternativa a esse modelo de desenvolvimento atual que é baseado totalmente no uso da terra, explorando os recursos naturais. A gente quer um modelo que respeite as pessoas, que valorize a agricultura familiar, a agroecologia e que dê espaço para o desenvolvimento dessas iniciativas comunitárias.

A sua candidatura é a primeira de um indígena, de uma mulher indígena, a esse cargo. Comparado com outros países, como a Bolívia — que já elegeu um presidente de origem indígena —, apesar de sua história o Brasil parece distante de aperfeiçoar essa representatividade. Por que se dá isso?

Aqui a gente sempre teve uma disputa muito desigual, em que quem manda é o poder econômico. Há muito tempo que o voto deixou de ser o elemento que elege, né? Quem elege é o poder econômico: quem tem mais investe e com isso leva. Quem vem trazendo somente a causa acaba sendo renegado pela própria população. Então a gente acha que é o momento de dar um passo inicial, meter a cara para gente mudar esse rumo, dessas históricas representações que representam somente interesses próprios. O fato da gente nunca ter participado não foi por conta de não ter tentado — sempre teve indígena na disputa. Mas os partidos não conseguem priorizar as candidaturas indígenas. No PSOL, a gente conseguiu fazer isso por meio de aliança, feita entre os movimentos sociais, o PSOL e o PCdoB.

A esquerda está atenta às questões indígenas?

A esquerda tem muito que aprender ainda, e a gente tá aí pra construir esse novo junto.

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Veja também a entrevista feita com Guajajara pela Agência Pública:

Autor

  • Jornalista formado pela Universidade Santa Cecília. Doutorando e mestre em Ciência da Informação e graduado em Filosofia pela Universidade de São Paulo (USP). Pós-graduando em Filosofia Intercultural pela Universidade de Passo Fundo (UPF). Especializado em Gestão Cultural pelo Centro de Estudos Latino-Americanos sobre Cultura e Comunicação (Celacc), um núcleo da USP. Como escritor, publicou o romance "As Esferas do Dragão" (Patuá, 2019), e o livro de poesia, ou quase, "*ker-" (Mondru, 2023).

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