Skyline – A Invasão

Apesar de tratar de modo diferente o tema da invasão alienígena, filme raramente consegue ser interessante

O melhor de Skyline – A Invasão é o modo como desenvolve temas já vistos muitas vezes no cinema: a invasão alienígena, o contra-ataque humano, a luta pela sobrevivência. Tanto no roteiro quanto no tratamento visual há qualidades nesse aspecto. Por outro lado, o filme tem personagens fracos e só consegue empolgar em dois momentos: no início, em que a luz azul desce dos céus e explode silenciosa na cidade; e no fim, quando sabemos o uso que os invasores fazem dos corpos humanos.

Entre as qualidades, está a perspectiva pela qual a história é contada. Diferente de um filme como Independence Day, o ponto de vista aqui não é o dos heróis, combatentes envolvidos na linha de frente do conflito. Acompanhamos pouco mais de cinco personagens atingidos por todas as decorrências da invasão e da guerra, mas que pouco sabem o que está acontecendo e menos ainda podem fazer a respeito. A sensação mais forte que o filme pode causar surge justamente dessa impotência do sujeito comum frente a acontecimentos enormes. Só resta a eles manter-se vivos, aguardar por ajuda, contar com a sorte.

Outro ponto forte é o design da invasão alienígena. A abdução é retratada como feita sem o uso de força bruta: pontos de luz caem devagar das naves à superfície, se expandem, atraem humanos para si e os sugam para a nave. O rapto tem duas imagens de impacto. A primeira: se alguém olha para a luz, o rosto é tomado por manchas negras e ele perde controle de si. A segunda: os milhares de corpos voando como insetos para dentro da nave. O que o filme parece querer é ridicularizar a força humana: aviões de guerra, armas pesadas e mesmo uma bomba atômica não são capazes de destruir as forças extraterrestres.

Mas o ataque também conta com uma infantaria, composta de gigantes e de criaturas que parecem ao mesmo tempo naves de captura e seres orgânicos. Essa mistura entre máquina e ser vivo na aparência dos aliens é mais um destaque. A nave-mãe, por exemplo, é destruída pelo exército humano e pouco depois passa a se regenerar, com suas partes voltando uma a uma, como se aquelas fossem células independentes de um corpo.

Problemas

Além dessa perspectiva diferenciada e dos efeitos visuais, o filme raramente consegue ser interessante. Dos seis personagens principais, quatro deles tem pouquíssimo desenvolvimento e parecem ter sido criados apenas para serem descartados em momentos diferentes da narrativa. O ator David Zayas, por exemplo, atraiu atenção para o filme pelo seu destaque na série Dexter, em que representa o policial Batista. Em Skyline, o resultado da participação são algumas cenas forçadas e uma frase de efeito clichê e desnecessária. Os outros personagens secundários não se saem melhor.

O casal protagonista consegue gerar alguma identificação. O homem sofreu mudanças após ter sobrevivido ao chamado da luz azul e o filme dá a impressão de que ele ganhou poderes, que tenha se tornado especial de alguma forma. A mulher está grávida, o que é inesperado para o casal, e há uma complicação romântica típica.

O desenvolvimento de tudo isso dificilmente poderia ser mais rasteiro. O relacionamento se torna mais forte, com o rapaz demonstrando ser um defensor de “sua família” e com o beijo hollywoodiano em meio à abdução, uma cena que pode parecer razoável ou muito ruim, de acordo com o espectador. Por outro lado, nunca chegamos a saber o quão especial ele se tornou de fato, exceto talvez no fim, quando ele sofre outra transformação. No fim, o filme parece ter acabado antes da hora. Deixa a história com pontas soltas, confiando demais que um gancho final garantiria uma continuação. Por falta de méritos, isso não é provável.

Autor

  • Jornalista formado pela Universidade Santa Cecília. Doutorando e mestre em Ciência da Informação e graduado em Filosofia pela Universidade de São Paulo (USP). Pós-graduando em Filosofia Intercultural pela Universidade de Passo Fundo (UPF). Especializado em Gestão Cultural pelo Centro de Estudos Latino-Americanos sobre Cultura e Comunicação (Celacc), um núcleo da USP. Como escritor, publicou o romance "As Esferas do Dragão" (Patuá, 2019), e o livro de poesia, ou quase, "*ker-" (Mondru, 2023).

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