Diário do México #6 | Terremoto e Tempestade

O chão parecia de gelatina, as coisas batiam ao redor, meu coração saltava

Passei doze dias longe do México. Voltei em meio à semana santa e encontrei um DF mais tranquilo. Tentei combinar uma viagem rápida à praia, mas cheguei tão cansada que preferi dividir com a capital mexicana uma semana preguiçosa. Caminhei pela Avenida Reforma, tirei minha primeira foto do anjo da Independência, que sempre me lembra o anjo germânico, da Vitória, em Berlim (não porque estive em Berlim, mas por causa dos filmes Asas do Desejo e Tão perto, tão longe do Wim Wenders que em suas maravilhosas panorâmicas mostram a estátua). Tentei chegar ao norte da cidade, mas parece que esse norte nunca chega. Cuitlahuac, onde estive grande parte desses dias, fica ao “centro-norte”, como me disse Inti. São quarenta minutos de metrô do sul até esse centro-norte. E não encontro o norte nessa cidade. Cuitlahuac quer dizer “extremamente seco” em nahuatl, mas essa semana me deparei com minhas primeiras tempestades defeñas. Não podia ser de outra forma, uma vez que somente uma enxurrada poderia resultar da volta de uma cidade pós-moderna onde estive nos dias anteriores e onde se despertaram inúmeras dúvidas sobre o meu futuro (o que é isso, me pergunto). Haviam dito que só choveria em junho, mas as tardes da semana santa se revesaram entre um calor que lembra vagamente o Brasil e tempestades no fim da tarde, que esfriam a noite. De qualquer modo, estava tudo bem para quem queria descansar de uma cabeça que andou às voltas no mundo.

Seria assim, não fosse por um pequeno detalhe ocorrido na manhã da sexta-feira santa. Havia acordado e conversava com uma amiga pela Internet quando sinto uma náusea. No dia anterior tive pressão baixa, logo pensei que não estava bem, talvez por causa da minha viagem ao exterior que foi bastante intensa, talvez por um acontecimento na minha volta que também intensificou minha experiência mexicana. Porém, quando olhei para as paredes do quarto notei que elas ondulavam, os quadros querendo saltar conforme o balanço. Escrevi “terremoto, mo” e me levantei. O chão parecia de gelatina, as coisas batiam ao meu redor, meu coração saltava. Pensei em abrir a porta e sair, mas fiquei paralisada. Enviei uma mensagem a um dos moradores da casa, que estavam viajando (justo nessa manhã, estava sozinha). “Tranquila”, me respondeu. E logo o tremor passou. Não dentro de mim, minhas mãos tremeram por ainda uns minutos. Depois soube que foi um tremor de 7.2 graus na escala Richter, com epicentro mais ao sul do país, no estado de Guerrero. Não houve danos nem feridos no DF.

Na Cidade do México, o descanso é um tremor, a experiência de viver aqui é esse terremoto que me deixa sem chão, ao mesmo tempo em que é a chuva que me refresca as tardes quentes.

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