Relicário | Arnaldo Nogueira Jr

Nogueira Jr. descreve um cotidiano marcado pelo convívio com a leitura

Ler não é só ler, um livro não é só um livro. Cada um se relaciona de forma diferente com o objeto livro, colecionando, protegendo ou rabiscando — e as histórias e as ideias que eles trazem vão ser parte de conversas, vão ser fonte de lembranças. A arte também é uma relação afetiva. É desse lado, desse relacionamento, que a seção Relicário trata. Neste mês, temos uma entrevista com o editor do site Releituras, Arnaldo Nogueira Jr.

Nogueira Jr. se descreve assim, no Releituras: “sou casado, acreditem, desde 1971 com a mesma mulher, a santa Célia. Sou pai de Fernando, bacharel em Direito e já advogado militante, e Mariana, formada em Propaganda e Marketing em Santa Bárbara — Califórnia (USA). Paulista de Franca, morei a maior parte de minha vida em Campinas (SP). Estamos no Rio há mais de 20 anos. Adoro ler, me corresponder com amigos, ouvir boa música (em especial MPB e Jazz), tomar cervejinha e fazer um bom churrasco”.

Já o Releituras nasceu da vontade de compartilhar suas “releituras”: “a Internet começava a estourar e, como gosto de novidades, fui logo aderindo. Resolvi, então, para incrementar a minha prática, copiar um artigo do Luís Fernando Veríssimo, intitulado O Apito, e remetê-lo para o amigo Tom, lá em Salvador. Foi no dia 23 de maio. Ele, por sua vez, enviou o texto para alguns amigos. A receptividade foi boa, a coisa começou a se espalhar e, atendendo a pedidos, dei prosseguimento ao meu trabalho, sempre selecionando de meus livros os textos que julgava os melhores”. Um dia, veio a proposta: “a proposta: por quê não tornar esse trabalho acessível a todo o universo de usuários da Internet?”.

Como você guarda seus livros? Organiza segundo algum critério ou não? Encapa ou usa algum tipo de proteção?

Os livros são colocados em estantes e organizados por escritor, sem ordem alfabética. Não são encapados (a menos que esteja muito velhos).

Qual a sua relação física com os livros? Anota nas páginas, quando dá de presente, faz dedicatórias? Ou acha que tudo isso estraga o livro?

Procuro tratá-los com cuidado e carinho. Não faço anotações. Quando dou de presente, faço dedicatória (somente para os amigos já chegados). Não creio que dedicatórias estraguem os livros. Já anotações nas páginas acho que distraem os próximos leitores.

Você empresta livros? Se sim, por quê; se não, por quê.

Sim. Acho que os livros não devem ficar reclusos em uma estante. É preciso que circulem e passem pelas mãos — e pelos olhos — do maior número de pessoas possível.

Você dá livros de presente? Dá os livros que você mesmo gostou ou tenta descobrir o que a pessoa gostaria?

Dou livros de presente para amigos e para formação de bibliotecas em escolas carentes. Dou livros que gostei e, também, os que não li (leio depois, pegando emprestado).

Qual a sua relação com o conteúdo dos livros? Usa algum método para não esquecer do que leu? Costuma reler ou não? Copia citações ou conta para os outros as partes que lhe marcaram?

Ler e refletir sobre o que leu é fundamental. Isso faz com que não esqueçamos do que lemos. Outro procedimento imprescindível é a releitura. Descobrimos coisas que, na primeira leitura, deixamos passar sem percebermos. A difusão e discussão do texto é feita em papo com amigos.

Você se lembra do primeiro livro que leu? Foi uma experiência marcante? Se não, qual foi a primeira experiência marcante que teve com livros?

Acho que foi o Tesouro da Juventude, em casa. Em biblioteca, comecei com Jorge Amado (eu tinha 15 anos), Fernando Sabino, Rubem Braga e todos os outros mineiros. A experiência foi marcante, tanto que me lembro disso até hoje.

Há tantos: Jorge Amado fui uma das primeiras experiências de leitura. No início da juventude livros sobre sexo não eram fáceis de encontrar. Se bem me lembro era Carlos Zéfiro e nada mais. E os gibis eram muito caros. Alguém da turma descobriu a – naquela época — literatura erótica de Jorge Amado a custo zero: íamos para a biblioteca e levávamos os livros para casa, onde a “concentração” no texto era bem melhor. Muitas vezes faço força para que o livro não acabe. Está tão interessante, a trama é tão boa, que dá vontade de ficar lendo por muito tempo. Os livros me acalmam e me levam a locais que só a imaginação pode me levar. Através deles engrandecemos nosso conhecimento, fazemos amigos, isto é, tudo de bom.

Quanto à releitura, pode citar exemplos de livros que lhe deram novas descobertas em uma segunda leitura? Houve algum que, em releituras várias, sempre existiu algo de novo para descobrir?

Eu, na pressa de não me perder no meio desse emaranhado de e-mails, fui me esquecer de citar aquele que é — para mim — tão querido, admirado e amado quanto Fernando Sabino: Vinicius de Moraes. O “poetinha” é presença constante nos meus pensamentos e nos meus papos. Sempre descubro, na leitura dos dois, novas descobertas. Vinicius foi homenageado por mim e minha mulher quando do nosso casamento: estava na capa do convite. Fernando Sabino foi homenageado por nós dois: meu filho se chama Fernando.

Quais são os autores que o senhor mais relê?

Além dos acima citados, Drummond, Rubem Fonseca, Adélia Prado, Lygia Fagundes Telles, Manuel Bandeira, João Ubaldo Ribeiro, e muitos outros mais.

Acha que o livro, como objeto, pode ser trocado por um ebook? Se acha que não, isso não seria possível mesmo com o Kindle, que imita uma página de livro, não emite luz e baixa quantos livros quisermos?

Depende do que se vai ler. Ler um romance de inúmeras páginas não é uma coisa confortável. A minha experiência no Projeto Releituras é que os “releitores” e leitores preferem textos curtos. Não tive, até agora, contato com o Kindle. Não posso opinar sobre isso.

Qual livro que ainda não leu (ou que quer reler) gostaria que fosse seu último?

Espero só ter que lhe dar essa resposta daqui há alguns muitos anos!

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