Os Famosos e os Duendes da Morte

É feito com grande esmero técnico e estético. A preocupação com a excelência visual, no entanto, corre o risco de preponderar sobre o conteúdo

Esmir Filho, diretor de Os Famosos e os Duendes da Morte pode ser considerado expoente de uma nova safra do cinema nacional, que também inclui Vera Egito, responsável pelo belo curta Espalhadas pelo Ar. Ambos são formados por prestigiadas escolas de cinema e fizeram carreira com curtas-metragens em festivais internacionais.

Assim, esse “novo cinema” surge mais profissional e, de certa forma, mais acadêmico. É, sobretudo, feito com grande esmero técnico e estético. A preocupação com a excelência visual, cultivada pelas já citadas escolas de cinema, corre o risco de preponderar sobre o conteúdo do filme e é o que de certa maneira acontece em Os Famosos e os Duendes da Morte, primeiro longa metragem de Filho.

O filme não apresenta trama, mas uma atmosfera. O espectador acompanha um menino em um pequena cidade do interior do Rio Grande do Sul às voltas com suas obsessões: Bob Dylan e uma bela menina de cabelos castanhos que aparece em vídeos na internet. Aos poucos a menina e a cidade se delineiam e uma pesada melancolia se instaura no filme, assim como a vontade de escapar.

A fuga se coloca como tema central do filme: fuga da vida para diversos habitantes da cidade, fuga daquela cidade para o protagonista e o forasteiro que se parece com Bob Dylan, fuga representada ainda pela internet, tratada de forma realista e sensível e vista como janela para o mundo “lá fora”. Filho se aproxima da adolescência de forma realista, com o frescor de um jovem cineasta: ser adolescente é não se reconhecer no mundo e desejar abandoná-lo.

No entanto, o embelezamento faz com que o filme perca a força que poderia ter. Filho aproxima-se de seu objeto, mas apenas esteticamente, tentando provocar no espectador a experiência de sufocamento que vive o personagem, afastando-se do que parece ser sua maior referência para esse longa: Gus Van Sant. O diretor americano tratou a juventude em dois de seus melhores filmes Elefante e Paranoid Park e obteve tamanho sucesso por absorver a crueza e a violência que o mundo representava para seus personagens.

A angústia do personagem de Filho é fragmentada, pois o mundo que o oprime raramente se mostra. Embora a fotografia seja escurecida, ela ainda apresenta um resultado final belo, assim como a decupagem que torna cada quadro uma composição estética apurada. Assim, o espectador tende a se perder na beleza criada pelo cuidado técnico e esquecer que se trata de um mundo feio e cruel.

Assim, Filho firma-se sem dúvida como autor, em um filme que deseja traduzir da maneira mais palpável possível o sentimento de não-reconhecimento na realidade e o desejo de fuga para qualquer mundo que esteja “do lado de fora” . Contudo, o cuidado estético presente na obra, que, provavelmente, é consequência da formação técnica e acadêmica do diretor, dilui o pessimismo e a violência dos sentimentos que uma narrativa mais bem estruturada e uma estética mais crua poderiam trazer.

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