Tarefa mínima para a centro-esquerda: reequilibrar a balança

Uma breve análise das eleições municipais de 2024 pelo país

imagem: Antonio Augusto/Ascom/TSE

O resultado das urnas nestas eleições municipais de 2024 demonstra de forma cabal o avanço do chamado centrão político, que é uma faceta mais fisiológica da direita. O PSD foi o grande vencedor nesse pleito, com 888 prefeituras conquistadas. Também tivemos o avanço de setores conservadores mais radicais, com o aumento substancial das prefeituras do PL, saindo de 344 em 2020 para 523 em 2024.

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Em 2025, cinco legendas da direita tradicional (PP, PSD, PSDB, MDB e DEM) comandarão 3.613 mil prefeituras em todo território nacional, o equivalente a 64% dos municípios.

O PT avançou em 37%, em relação a 2020, capitaneado por Lula. Já o PDT, de Ciro Gomes, é, na minha ótica, um dos grandes derrotados, saindo de 315 prefeituras para 151. 

Em primeira análise, na humilde opinião deste comentarista, a centro-esquerda institucional sai enfraquecida, mesmo com um aumento de prefeituras conquistadas pelo PT. É um fato notório o crescimento do pensamento ideológico de direita em nosso país, o que demonstra que as pessoas estão cansadas da forma como a esquerda institucional tem atuado. Farei essa análise num texto futuro.

Mesmo com todo o ocorrido em 8 de janeiro e toda a exposição negativa do fascismo brasileiro, representado pelo bolsonarismo nas diversas mídias, me parece que isso não desviou o foco do eleitor do campo da direita no Brasil. Talvez os eleitores desse campo tenham percebido que o bolsonarismo não é a única alternativa. Pablo Marçal é o exemplo mais claro desse deslocamento. 

Me parece que está em curso no Brasil o início de uma ruptura entre essa direita fascista e uma direita tradicional, que tenta retomar espaços perdidos com o enfraquecimento do PSDB em nível nacional. 

O que precisa ficar claro é que o debate em níveis municipais é menos focado na questão puramente ideológica, dando lugar a questões mais práticas, relacionadas aos problemas locais e, nesse sentido, aqui reside o problema que a esquerda tem que enfrentar, pois ela não conseguiu ser uma alternativa viável para as pessoas. Se a esquerda não representa uma solução nem no campo ideológico, nem no campo prático dos problemas nas cidades, então a esquerda caminha para ser apenas um sonho de uma noite de verão em terras brasileiras. Tudo isso, aponta para um cenário bastante complexo em 2026 nas eleições presidenciais e parlamentares. Não está na hora da autocrítica?

Não podemos negar e nem esquecer que, historicamente, a direita sempre foi uma força mais influente no Brasil, todavia, voltar a equilibrar a balança é a tarefa mínima para a centro-esquerda brasileira. O aumento das prefeituras de direita no Brasil precisa ser levado muito à sério pelo campo entitulado progressista.

Outro fator a se levar em consideração na análise política é o fato de que a direita não está mais colada no bolsonarismo. O crescimento de legendas como União Brasil e PSD que não são alinhadas totalmente com o Bolsonarismo demonstra isso. Ambas as legendas, inclusive, têm cargos no governo Lula.

Todavia, precisamos levar em consideração que Bolsonaro segue como a maior liderança política no campo da direita. Isso pode ser percebido se verificarmos o crescimento do PL, partido de Bolsonaro, que viu sua fatia de prefeituras saltar de 344 em 2020 para 523 em 2024. 

A questão que se coloca aqui é que a inelegibilidade de Bolsonaro permitirá o surgimento de novas lideranças, como Pablo Marçal e o ressurgimento de velhas lideranças como Ronaldo Caiado, fortemente apoiado pelo agronegócio. Outro nome que não podemos esquecer é o do governador de São Paulo, Tarcisio de Freitas, uma espécie de bolsonarista mais polido, todavia, tão fascista quanto.

É nítido que houve a consolidação do campo da direita no país, apesar de existir uma fragmentação entre extrema direita e direita. A dúvida que fica é como esses dois campos da mesma linha ideológica vão trabalhar em 2026. Vão dialogar, vão se aliar na disputa presidencial? A ver.

Em relação ao campo progressista (não gosto desse termo), quando o segundo turno nas grandes cidades passar, penso que a esquerda enquanto campo ideológico precisará de muita análise, muito trabalho e renovação. O campo progressista precisará fazer escolhas, precisará repensar sua atuação, que nitidamente não encontra mais tanta adesão na população. Eu tenho pistas sobre por que isso vem acontecendo e sobre alternativas, mas ficará para um texto futuro, como eu disse em uma das primeiras linhas deste texto. Por hora, barbas de molho, camaradas.

Autor

  • Bacharel e licenciado em História pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC/Campinas), com especialização em Patrimônio Histórico e Cultural pela mesma universidade. Possui também especialização em Gestão Cultural pela Cátedra de Girona e Observatório Itaú Cultural.

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