Contra o ódio de Regina Duarte, uma ode à loucura

imagem: Palácio do Planalto

Eu acredito que quase nada do que existe hoje no mundo precisa ser assim. Para todos os efeitos, para o nosso tempo, eu sou louco. E estou bem com isso.

Regina Duarte, por outro lado, não é louca. Ela me parece bem encaixada no status quo, está aparentemente satisfeita com o mundo em vez de tentar transformá-lo.

Não é a loucura que faz Regina ser horrível. Há loucos bem interessantes nesse mundo, com quem a maioria das pessoas adoraria tomar um café e ganhar umas horas de conversa. Penso que, sem os loucos, nem sequer prosseguiria a sociedade. A física polonesa Marie Curie, desenvolvedora da teoria da radioatividade, contrariou todo o paradigma científico de seu tempo quando insistiu no decaimento do núcleo atômico — a transformação de um átomo causada pela sua instabilidade. Em um fracionamento dos átomos — que, por definição, eram indivisíveis. Ela, no seu galpão, simplesmente achou razoável que suas observações valessem mais que toda capacidade cognitiva combinada de todos os homens de seu tempo sobre a natureza daquele fenômeno estranho, que apresentava raios tão aleatórios que eram chamados de X. Sem algum distanciamento do mundo isso não seria nada possível.

É preciso algum descolamento do concreto para que se imagine um outro concreto que um dia possa se concretizar. O louco é sobretudo um descolado de seu tempo.

Regina Duarte, por outro lado, está plenamente aderente. Atua, debocha, mente se for preciso. É uma soldada.

Aquele que é louco já precisa conviver com uma visão divergente do aceito, precisa conviver com os consensos. E diz, independente de quem incomode, aquilo que pensa. Regina não fez isso. Não falou o que falou sem medo de incomodar. A fala dela tinha alvo específico: queria a concordância do presidente, dos militares. Agiu de modo absolutamente subalterno, implorando por um emprego.

Só escrevo essas linhas para que nos deixem fora disso. Tirem os loucos da jogada. Regina fez o que fez pela falta de humanidade, não de sanidade. Fez o que fez pela falta de brio, de caráter. E, acreditem, um louco é um professor a essa mulher em todos esses quesitos.

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