Bolsonaro conseguiu me decepcionar, eu que nada espero dele

Você sabe, pra mim Bolsonaro sempre foi um erro, mas, veja só, com a crise do Covid-19 ele foi além e conseguiu me decepcionar.

Já tinha acontecido algo assim como Moro. Eu não tinha simpatia por ele e avaliava (e agora, penso, isso veem todos) que, no caso de Lula, agiu menos com isonomia e mais com vontade de destruição do PT. Mas eu ainda achava que atuava com alguma intenção de justiça.

(Alguns podem gritar, como você pode pensar isso etc. Lembrem-se: o PT roubou mesmo.)

Entretanto, por ter aceito o ministério, quando seria digno se manter alheio ao executivo (não se sabia, então, que tratos pelo cargo ocorriam antes da eleição; é o que exibe a Vazajato) e pelo que fez no posto de ministro, se provou muito mais pequeno do que eu o enxergava.

Menos um ministro que um garoto de recados de Bolsonaro. Servil e deliberadamente míope, capaz de um autoritarismo mesquinho (não é absurdo, por exemplo, que ele pince este post e me vise pessoalmente, mesmo eu sendo nada, como ele atacou um festival de música punk e apesar de ignorar temas mais importantes), só quer entrar no STF, empertigar-se na toga.

Moro me decepcionou. Eu pensei que ele fosse ao menos maior do que isso. E Bolsonaro, com a pandemia de coronavírus, me decepciona.

Porque não precisaria muito. Bastaria ter o mínimo bom senso e perceber o óbvio: que de todas as coisas esta não será resolvida por memes e guerras a inimigos inventados. Seria suficiente ouvir especialistas (deve haver, por exemplo, muitos médicos bolsonaristas, esses que queriam expulsar os cubanos por reserva de mercado). Bolsonaro é um homem velho. A idade não lhe deu uma migalha de sensatez?

Parece que não. E eu percebi que esperava que Bolsonaro fosse maior do que alguma coisa, que fosse maior do que isso ao menos – notar os riscos de uma doença que matou 600 num dia na Itália e que em um dos cenários avaliados pode matar 2 milhões de brasileiros. Apenas neste caso, não querer tapar o sol com fake news.

Fui decepcionado, é um sentimento novo em relação a um presidente do qual só se espera que enriqueça a classe rica. E se eu, que sou eu, fui decepcionado, como os eleitores desse sujeito estão lidando consigo mesmos?

Autor

  • Jornalista formado pela Universidade Santa Cecília. Doutorando e mestre em Ciência da Informação e graduado em Filosofia pela Universidade de São Paulo (USP). Pós-graduando em Filosofia Intercultural pela Universidade de Passo Fundo (UPF). Especializado em Gestão Cultural pelo Centro de Estudos Latino-Americanos sobre Cultura e Comunicação (Celacc), um núcleo da USP. Como escritor, publicou o romance "As Esferas do Dragão" (Patuá, 2019), e o livro de poesia, ou quase, "*ker-" (Mondru, 2023).

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