O Rizoma

Mil Platôs – Capitalismo e Esquizofrenia é o segundo tomo do Anti-Édipo, uma crítica ferrenha tanto ao conceito freudiano do Complexo de Édipo quanto às bases da psicanálise. Para os autores, é ridículo reduzir psicopatologias a romances familiares e desejos encerrados em si. Há uma multiplicidade de elementos que são impossíveis de serem interpretados na tentativa de descrever um modelo ideal.

No primeiro capítulo, os autores Gilles Deleuze e Felix Guattari trazem o modelo rizomático para a filosofia, aplicando sua estrutura das formas mais primárias de pensamento humano, até o funcionamento do organismo social.

Em Botânica, rizoma é um tipo de caule de algumas plantas. Ele cresce horizontalmente e é geralmente subterrâneo, mas também pode ter porções aéreas. Estrutura-se de forma decentralizada, em contraponto ao modelo arbóreo, que é centralizado e regido por uma hierarquia. A idéia do rizoma seria essencial em nossa época justamente por que vivemos agora em um mundo hiperconectado que caminha para uma des-hierarquização. Portanto, para entender a nova estrutura social e assim a nova estrutura psíquica do ser humano, é necessário esse novo modelo filosófico que pretende dar conta desse cenário. Mil Platôs não se resume na crítica citada, mas se estende ao longo de cinco volumes em que os vários modelos descritivos criados pelos filósofos são explicados (rizoma, corpo sem órgãos, desterritorialização etc).

A ideia principal é a descentralização, a própria estrutura do livro segue a idéia rizomática, você pode ler os capítulos em qualquer ordem, o entendimento é segmentado nos vários “nós”, nunca sendo completo em si mesmo, mas como fragmentos em si mesmo. Eis o “princípio de conexão e heterogeneidade: qualquer ponto no rizoma pode se conectar a qualquer outro ponto, e deve fazê-lo”.

Diferente do modelo fractal, os pontos não carregam em si a informação do todo, são todos independentes e tem como principal característica a conectivicade, todos podem ser acessados a partir de qualquer outro ponto.

Para entender de maneira menos complexa como a idéia de rizoma se encaixa em nossa vida, é só pensar em termos de relações pessoais. A tecnologia da comunicação tem se concentrado em facilitar ao máximo os relacionamentos. Dentro do mundo virtual percebemos o rizoma surgir em forma todo tipo de redes sociais.

A internet em si tem a forma de um rizoma e, embora ainda exista níveis de hierarquia (servidor, PC, você, menus, sub-sessões), ela é descentralizada e de um ponto você pode acessar qualquer outro instantaneamente.

Não se deve confundir tais linhas ou lineamentos com linhagens de tipo arborescente, que são somente ligações localizáveis entre pontos e posições. (…) O rizoma se refere a um mapa que deve ser produzido, construído, sempre desmontável, conectável, reversível, modificável, com múltiplas entradas e saídas, com suas linhas de fuga. São os decalques que é preciso referir aos mapas e não o inverso.

Essa idéia se torna tão importante dentro da filosofia exatamente dentro desse contexto de hiperconectividade e principalmente como isso muda a forma de pensar e agir do ser humano atual. Não é mais possível criar modelos deterministas para nenhuma área de ciência humana, estrutura é múltipla dentro de vários estratos de multiplicidades, cada ponto é infinitamente redutível.

Dentro desse modelo o Édipo não pode sobreviver, a psicanálise Freudiana é esmagada, assim como qualquer filosofia determinista. O rizoma é a expressão máxima da multiplicidade que não explica, mas se aproxima do modelo geral da sociedade atual.

“Um rizoma não começa nem conclui, ele se encontra sempre no meio, entre as coisas. A árvore impõe o verbo ser, o rizoma tem como tecido a conjunção e… e… e…

Referências:

Mil Platôs – Capitalismo e Esquizofrenia
, Gilles Deleuze e Pierre-Félix Guattari.

Autor

  • Formado em jornalismo, sempre trabalhou com programação. Depois, se especializou em marketing e agora está mais focado na disseminação da magia do caos e da filosofia zen.

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