O Cérebro na Jarra e o Espírito (Auto)Retratista

imagem destacada: The Accidental Tourist

Gostaria de começar este artigo mencionando dois livros que tive recentemente a oportunidade de folhear. O primeiro deles, Neurocomic (edição brasileira da DarkSide), um livro com uma capa muito bonita e decorada, teria como proposta usar o formato da história em quadrinhos para explicar as origens e os fundamentos da neurociência. Em algum momento do quadrinho, um dos seus personagens – ninguém menos que Santiago Ramón y Cajal, o “pai da neurociência”, que também ficou conhecido pelos seus desenhos extremamente ricos e detalhados das estruturas do cérebro humano – afirma, para o protagonista anônimo do quadrinho, quando ambos se encontram na escuridão de uma “floresta de neurônios”: “Tudo começa e termina nos neurônios: dos seus receptores sensoriais aos nervos que controlam os seus músculos, tudo que você sente, lembra ou sonha está escrito nessas células. É nesta floresta dentro de você que está o segredo da mente humana…”1.

Pouco tempo depois de folhear esse livro, me vi folheando um outro, chamado, oportunamente, de “O cérebro ansioso”, livro no qual o autor tenta explicar os mecanismos cerebrais por trás da ansiedade, tanto a “funcional” quanto a “disfuncional”. Aí, após contar como, por muito tempo, acreditou-se que a sede das emoções fosse o coração, o autor afirma, em tom grandioso: “No século XX, as coisas mudaram, e muito. Foi o século do cérebro! (…) A psicologia, a psiquiatria e a neurologia sentaram na mesma mesa, buscaram entendimentos e uma linguagem comum, afinal, o objeto de estudo era a mesma mente. (…) O cérebro foi finalmente colocado no centro, como um grande maestro do organismo – e, portanto, como culpado pelos crimes de ansiedade.”2

Creio que esses dois livros, e em particular as duas passagens que citei aqui, sejam fortes indícios de uma tendência bastante marcante de nosso tempo: a tendência de identificar a nossa mente e, desse modo, nós mesmos, com o nosso cérebro. Mais do que isso: eles são indícios de que essa tendência se dá tanto na cultura popular quanto na comunidade científica. De fato, ambos os livros são livros de divulgação científica, que tentam transmitir os resultados obtidos pela comunidade científica para o público leigo e que, por fazerem tanto sucesso hoje, também acabam se inserindo em nosso cotidiano, impregnando o vocabulário que usamos para falar de nós mesmos e, desse modo, também a nossa compreensão de nós mesmos. Tenho certeza de que exemplos da inserção em nosso vocabulário cotidiano de expressões que fazem referência ao cérebro ou a alguma parte dela não faltam, embora eu tenha um problema sério de sempre me “dar um branco” quando tento dar exemplos concretos (uma peça que o meu cérebro prega em mim – aliás, olha só, este já é um exemplo concreto!). “Fritar os neurônios”, por exemplo, ou “isso é demais para o meu cérebro”, ou “meu cérebro vai explodir” – todas essas expressões, não pouco usadas cotidianamente, mostram como o cérebro já é inseparável de nossa autocompreensão, mesmo ao ponto de, muitas vezes, atribuirmos nossas emoções e pensamentos a ele (como se o cérebro fosse quem sentisse e pensasse), ou, mais ainda, nos identificarmos com ele.

Mas será mesmo que o cérebro esconderia dentro de si “o segredo da mente humana”, tal como afirma Cajal em Neurocomic? Será que aquilo que constitui aquilo que nós somos, a nossa consciência, a nossa mente, o nosso espírito poderia ser inteiramente explicado se tivéssemos conhecimento o bastante da natureza do cérebro e dos processos que ocorrem nele? Será que não seríamos, em essência, nada mais do que cérebros em uma jarra?

É precisamente essa suposição, hoje largamente difundida não apenas na cultura popular e na cultura científica, mas mesmo na cultura filosófica, que Markus Gabriel pretende criticar em seu livro, cujo título não poderia ser mais claro: Eu não sou meu cérebro, livro que traduzi para a editora Vozes.

(Tecnicamente, o título do livro no original, Ich ist nicht Gehirn, seria mais literalmente traduzido como “Eu não é Cérebro”, uma brincadeira que o autor fez no original alemão, escrevendo propositalmente de modo gramaticalmente errado como que para indicar que se está dizendo que a “entidade” do Eu, aquilo que o Eu é em geral (e não apenas aquilo que eu ou você somos), não é aquilo que o cérebro é. Mas como uma tradução que tentasse manter fielmente a brincadeira logo mancharia irremediavelmente a minha reputação como tradutor e faria as pessoas acharem que eu não sei nem conjugar na pessoa certa, e como uma tradução literal que fosse ao mesmo tempo gramaticalmente correta (“O Eu Não é O Cérebro”) seria o equivalente a explicar a piada (ao mesmo tempo em que só deixaria as pessoas ainda mais confusas), depois de muito conversar com o autor e com a editora concluímos que seria melhor traduzir como “Eu não sou meu cérebro”, baseando-nos na tradução do inglês do mesmo livro, I am not my brain. Mais curioso ainda, para concluir essa longa digressão, é que, no fim, não sei se por obra do acaso ou do destino, a edição da capa forneceu uma ótima maneira de manter algo do tom informal do original: embora o título oficial seja “Eu não sou meu cérebro”, a capa dispõe os elementos do título de tal modo que, à primeira vista, se o lê apenas como “Não sou meu cérebro”, para só depois se notar o “Eu” se escondendo no fundo da capa – uma experiência filosófica interessantíssima de como o trabalho de tradução não acaba no tradutor.)

Não se trata de negar que o cérebro, e que todos os processos físicos, biológicos e neurológicos que o constituem, não sejam condição necessária do espírito humano. A questão é que uma condição necessária não é o mesmo que uma condição suficiente

Digressões de tradutor à parte, como disse, o livro tem como primeiro propósito recusar a tese de que aquilo que faz de nós seres humanos dotados de consciência, mente e espírito, aquilo de faz de nós, em outras palavras, seres humanos livres, seria o cérebro. É isso que o autor chama da tese antinaturalista de seu livro. Enquanto o naturalismo “parte do princípio de que tudo que existe pode, em última instância, ser examinado do ponto de vista das ciências naturais”, o antinaturalismo “parte do princípio de que nem tudo que existe é pesquisável por meio das ciências naturais ou é algo de material”3. Mais do que negar que a consciência ou a mente poderia ser explicada por meio exclusivamente das ciências naturais, Gabriel quer negar que o Geist, o espírito humano possa ser inteiramente explicado desse modo. Inclusive, Geist, em alemão, como lembra Gabriel, nem mesmo deve ser confundido com a mera mente, como frequentemente ocorre. De fato, é isso que o leva a criticar a tradução para o alemão do ramo da filosofia chamado em inglês de philosophy of mind (“filosofia da mente”) como “Philosophie des Geistes”, já que o espírito seria algo mais amplo do que a mera mente ou consciência, embora a consciência deva ser entendida, sem dúvida, como uma parte constitutiva daquilo que é o espírito humano — o que faria da “philosophy of mind” apenas uma subdivisão da filosofia do espírito. Assim, trata-se, no livro, de, mais do que defender que a mente não possa ser explicada inteiramente em termos naturalistas, defender que o espírito humano como um todo não pode ser inteiramente explicado desse modo.

Isso poderia gerar imediatamente a impressão de que o autor defenderia alguma espécie de dualismo (aqui, dualismo significaria a tese da existência de duas substâncias, de duas “coisas distintas”: aquilo que compõe o mundo físico e aquilo que compõe o mundo espiritual) — afinal, se há algo que não pode ser pesquisado pelas ciências naturais, e se a nossa consciência, se aquilo que faz de nós seres humanos conscientes e livres não pode ser pesquisado desse modo, isso não deveria ser atribuído ao fato de que a mente tem a sua origem em outro lugar que não na natureza? Contudo, é essa tese que o autor deseja prontamente recusar. Não se trata de negar que o cérebro, e que todos os processos físicos, biológicos e neurológicos que o constituem, não sejam condição necessária do espírito humano, e não iluminem muitos aspectos interessantes e fundamentais para entender como tal espírito poderia ter surgido e se desenvolvido (de fato, talvez um belo exemplo de como um conhecimento evolutivo possa fornecer bases indispensáveis para se compreender o desenvolvimento das capacidades espirituais propriamente humanas seja o livro de Tomasello, Origens da Comunicação Humana4). A questão é que uma condição necessária não é o mesmo que uma condição suficiente. Pode ser, por exemplo, que precisemos de madeira (ou de um outro material) para construir uma mesa;  nesse sentido, a madeira, certamente, é condição necessária da mesa; contudo, não basta haver madeira para que haja uma mesa; aquilo que faz de uma mesa uma mesa é mais do que o fato de que ela tenha a madeira como seu material.

Mas o que levaria o autor a julgar que o cérebro, com todos os processos físicos e biológicos que o constituem, não seria o suficiente para explicar a nossa consciência, ou, ainda mais fundamentalmente, o nosso espírito? Para responder a pergunta, precisamos entender, primeiramente o que o autor entende por espírito. Afinal, o conceito pode gerar uma série de mal-entendidos, e fazer-nos acreditar que se trataria, para usar a imagem de Gilbert Ryle em seu livro O Conceito de Mente5(e retomada por Gabriel em seu livro), de um fantasma sentado na sala de máquinas de nosso cérebro, conduzindo o nosso corpo de dentro dessa central como alguma espécie de piloto que, todavia, seria algo distinto e inteiramente separado do próprio cérebro.

Foram as maneiras com que compreendemos a nós mesmos que orientaram o modo com que constituímos sociedades, criamos valores, leis e instituições ao longo do tempo. E é por isso mesmo que a nossa história não poderia ser explicada inteiramente independente do seu componente espiritual, recorrendo apenas a explicações físicas, biológicas ou neurológicas

Contudo, nada poderia estar mais longe da verdade. Para explicar o que entende por espírito, Gabriel remete-se à tradição de autores como Kant e Hegel e tenta mostrar como, para explicarmos determinados fenômenos relacionados ao ser humano, só podemos fazê-lo atribuindo-lhes características que seriam, justamente, aquelas que fariam de nós seres espirituais. Características tais como sermos seres que agem com vista a fins, ou seja, seres em relação aos quais ao menos uma parte daquilo que fazem só pode ser explicado por meio dos fins, dos objetivos que eles buscam atingir; que sejamos dotados de disposições proposicionais, isto é, que possamos nos relacionar conscientemente de maneiras distintas em relação a um mesmo fato (podemos crer que há uma guerra na Síria, por exemplo, assim como podemos temer ou duvidar desse mesmo fato); que, por fim, tenhamos uma consciência fenomênica, subjetiva das coisas (ou seja, que sintamos, percebamos ou experienciemos as coisas de uma determinada maneira) que não se reduziria à  consciência intencional, objetiva das mesmas (ou seja, à nossa consciência na medida em que ela se refere a algo exterior a ela e que ela pode acessar, desse modo, o mundo “objetivo”, as coisas tal como elas são independentemente de nossa experiência subjetiva delas).

Os argumentos de Gabriel contra a submissão de todas essas características a algo que possa ser explicado pelas ciências naturais são muito instigantes e, geralmente, levam a uma redução ao absurdo: no caso das disposições proposicionais, Gabriel argumenta que, para que se possa negar que tenhamos disposições proposicionais (e, portanto, um tipo de consciência, de relação a fatos, que não se deixa descrever de modo puramente físico), é, porém, justamente necessário negar ou duvidar que tenhamos disposições proposicionais… Mas, negar e duvidar são, justamente, disposições proposicionais em relação a algo! (A saber, em relação à proposição de que tenhamos disposições proposicionais).

Já quanto à consciência fenomênica, Gabriel defende o que poderíamos chamar de “tese da insuperabilidade da consciência” (o termo que traduzimos por “insuperabilidade” aqui — um desses termos que mostra a língua alemã em seus melhores momentos — é Unhintergehbarkeit, algo que se traduziria mais literalmente como a “impossibilidade de ir para trás”, justamente no sentido de não se poder ir para trás da consciência para enxergar o que “verdadeiramente” se esconderia por trás dela). Segundo essa tese, todas as teorias que construímos acerca do mundo objetivo — mesmo aquelas que negam que tenhamos consciência subjetiva — se apoiam em dados que experienciamos subjetivamente e são desenvolvidas a partir deles, de modo que mesmo o filósofo ou cientista que tenta negar que ele tenha uma consciência subjetiva o faz partir de dados sensíveis ou de experiências, e, portanto, a partir dessa mesma consciência subjetiva.

De todas as ideias, porém, que Gabriel levanta para mostrar que o espírito não poderia ser completamente explicado pelas ciências naturais, a mais importante — e também aquela por meio da qual melhor se pode compreender os demais aspectos constitutivos daquilo que Gabriel chama de espírito — seria aquela que ele chama de seu neoexistencialismo, a ideia segundo a qual “o ser humano é livre, na medida em que ele precisa fazer uma imagem de si mesmo para poder ser primeiramente alguém. Nós esboçamos autorretratos de nós [mesmos], de quem somos, queremos ser e devemos ser, e nos orientamos por esses [autorretratos] sob a forma de normas, valores, leis, instituições e regras de diversos tipos.”6

Autorretrato Triplo, de Norman Rockwell

Mas o que haveria de tão importante, afinal, no fato de que “façamos autorretratos de nós mesmos”, e por que seria tão constitutivo do que faria o espírito inexplicável apenas por meio das ciências naturais? Ora, precisamente o fato de que esses autorretratos não são externos àquilo que nós mesmos somos, não são como uma pintura que se faz diante de uma paisagem e que não transformaria a própria paisagem. Antes, esse autorretrato se assemelharia mais a uma pintura na qual o pintor retrata a si mesmo retratando a paisagem; pior ainda, na qual ele se retrata retratando a si mesmo, tal como no Autorretrato Triplo, de Norman Rockwell. Em outras palavras, somos seres espirituais porque o retrato que fazemos de nós mesmos se torna imediatamente parte daquilo que somos, mesmo quando esses autorretratos são falsos. Afinal, se eu acredito ser um excelente jogador de futebol, por mais que isso não seja verdade (e, confiem em mim, não é verdade mesmo), o fato de eu ter essa crença sobre mim mesmo também é parte do que eu sou, ou seja, eu sou (entre outras coisas) uma pessoa que acredita ser um excelente jogador de futebol. De fato, essa crença não apenas é constitutiva de quem eu sou, mas também tem influências nítidas no que eu faço — por exemplo, pode ser que, em função dela, decida participar de um jogo de futebol com outros colegas — o que, provavelmente, teria sérias consequências, por sua vez, para a minha imagem e minha autoimagem.

De maneira mais ampla, porém, é essa capacidade de criar autorretratos de si mesmo que faz que o ser humano tenha uma história — de fato, a história do ser humano, em certo sentido, poderia ser compreendida com a história dos autorretrados que fizemos de nós mesmos (tributo inconfundível e expressamente reconhecido de Gabriel a Hegel, justamente aquele que disseminou o uso de “espírito” no sentido de que Gabriel faz uso aqui com a sua obra mestra, a Fenomenologia do Espírito7). Foram as maneiras com que compreendemos a nós mesmos que orientaram o modo com que constituímos sociedades, criamos valores, leis e instituições ao longo do tempo. E é por isso mesmo que a nossa história enquanto seres humanos não poderia ser explicada de maneira inteiramente independente desse nosso autorretrato, do componente espiritual desse processo, recorrendo apenas a explicações físicas, biológicas ou neurológicas. Não que essas explicações não sejam necessárias para se compreender como foi possível que tal processo ocorresse; elas não seriam, porém, suficientes, uma vez que deixam o componente espiritual de lado.

Muito poderia ser dito ainda sobre as outras teses que Gabriel desenvolve neste livro, não apenas de maneira negativa, para refutar o naturalismo em relação ao espírito, mas também de maneira positiva, para fornecer uma concepção positiva daquilo que seria a nossa liberdade positiva enquanto seres espirituais; contudo, como não é minha pretensão reescrever o livro, creio que seja melhor parar por aqui. Para todos, porém, que se interessarem em temas caros não apenas à filosofia da mente, mas a toda reflexão filosófica, científica e antropológica sobre aquilo que nos constitui enquanto seres humanos, o livro de Gabriel é uma exposição acessível, interessante e instigante não apenas de muitas das questões e argumentos clássicos desse debate, mas também de teses próprias bastante astutas, que nos fazem enxergar esse debate de uma outra perspectiva.

Obviamente, uma série de questões poderiam ser levantadas ainda a Gabriel: não seria precipitado concluir que nossos autorretratos, que esse elemento de autorreferência constitutiva daquilo que somos, não poderia encontrar, eventualmente, uma descrição adequada do ponto de vista das ciências naturais? Não se formaria desse modo uma imagem possivelmente simplista da natureza e das ciências naturais, uma espécie de espantalho das mesmas? Por que comprar a tese daqueles contra quem Gabriel se volta e supor que o elemento subjetivo e espiritual, por ser subjetivo e espiritual, não possa ser natural? Por que não fazer em vez disso como Searle, em seu A Redescoberta da Mente8, e tentar mostrar como ser natural e ser subjetivo seria inteiramente compatível, ou mostrar como esse elemento autorreferencial e autotransformativo do espírito poderia ele mesmo ser interpretado e inserido (e não apenas negado e excluído) em uma perspectiva naturalista (como inclusive Hofstadter parece já fazer em seu Eu Sou Um Estranho Loop9)? Não que com isso queiramos defender o naturalismo contra o antinaturalismo de Gabriel; só queremos apontar como, apesar das teses interessantíssimas elencadas por Gabriel a favor do antinaturalismo, tal discussão ainda parece longe de estar acabada (e talvez tenha um de seus mais recentes episódios no novo livro de Daniel Dennett,  Das Bactérias a Bach e de Volta10, livro que defende, em muitos aspectos, teses diametralmente opostas à de Gabriel).

De todo modo, sai-se da leitura do livro de Gabriel com uma imagem instigante do espírito humano: não a de um cérebro em uma jarra, condenado aos limites estreitos de sua “floresta de neurônios”, onde toda a sua essência se esconderia; mas sim a de um espírito vibrante que pinta a realidade e a si mesmo, e expande incessantemente, assim, tanto a moldura do seu quadro quanto o mundo por ele abrangido.

Autor

  • É professor substituto de história da filosofia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e doutor em filosofia pela Universidade de São Paulo (USP). Também é o atual diretor da Associação Latino-Americana de Filosofia Intercultural.

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