“Sabe beijar com um bombom de licor na boca?”
O vento vem da lagoa e começa a empurrar as folhas secas que se juntam num redemoinho e se espalham. Agora, ele vê no redemoinho um papel de bombom, que também rodopia.
“Já te falei qual é o meu bombom preferido?”
“Qual é?”, ele pergunta.
“O Ouro Branco.”
“Nesse quesito você está absolutamente só, pois a maioria prefere o Sonho de Valsa.”
“Pois eu gosto do Ouro Branco.”
“Você sempre teve opinião.”
“Eu não como o bombom como todo mundo come.”
“Ah, é?”
“Eu vou tirando as camadas, uma por uma, raspando com os dentes; primeiro solto a camada de cima, a de chocolate; depois passo pra segunda camada, que é a da casquinha, até atingir a última camada, que coloco inteira na boca e deixo ir desmanchando.”
“Mas agora você colocou o bombom inteiro na boca.”
“É porque estou com você. Então não sinto necessidade desse ritual. Só como o bombom como acabei de te dizer quando estou sozinha.”
“E se for um bombom recheado com licor?”
“Aí eu não mastigo. Deixo ir derretendo.”
“Você tá certa. Bombom com licor deve ser colocado na boca inteiro. Mas é preciso ir furando com os dentes e deixar o licor inundar a boca, aos poucos.”
“Isso não chega a ser novidade. É instintivo.”
“Sabe beijar com um bombom de licor na boca?”
“Se não sei, aprendo.”
“Não perguntei se aprende. Perguntei se sabe.”
“Nunca tentei.”
“Se você dissesse que sim eu ia reclamar, pois só te ensinei a beijar com chiclete na boca.”
“É verdade, quando eu tinha onze anos e você vinte e três eu não sabia nada.”
“Mas em compensação hoje em dia, em matéria de beijo, não chego a teus pés. Será que terá comigo a mesma paciência que tive quando você tinha onze anos?”
“Terei paciência sempre que ela for necessária. Prometo.”