Wall Street: O Dinheiro Nunca Dorme

Oliver Stone se destacou como cineasta ao realizar a crítica aos Estados Unidos olhando de dentro da própria sociedade americana. No entanto, ao contrário de nomes como Sam Mendes (de Beleza Americana e Foi Apenas um Sonho), Stone não coloca seu foco no microcosmos das famílias suburbanas e sim nos grandes pilares do país. É assim com Assassinos por Natureza‘ em que o diretor construiu um ácido retrato da mídia e da relação dela com os americanos; e com Wall Street, quando o autor se voltou para o sistema inescrupuloso do mercado de ações. Agora, com Wall Street: o dinheiro nunca dorme, Stone retoma a forma.

O filme apresenta Gordon Gekko, personagem central do primeiro Wall Street, deixando a cadeia após uma reclusão de nove anos. Ao mesmo tempo, sua filha Winnie, que rompeu relações com o pai enquanto este estava na cadeia, constrói sua vida com Jake Moore, um jovem ambicioso, mas honesto, corretor de Wall Street. Por conta de uma palestra, Moore entra em contato com Gekko e a partir daí este irá lhe mostrar a verdadeira face do mercado financeiro.

A narrativa se centra nos momentos anteriores à crise que abalou o sistema financeiro no final de 2008 e pretende retratar os movimentos escusos e questionáveis que levaram Wall Street ao desespero. Porém, a oposição feita entre o investidor ‘a moda antiga’, que negocia títulos provenientes do lucro de empresas produtoras , e os novos investidores, aqueles que negociam ações descoladas de produtos concretos, diminui o espectro da crítica de Stone: ele parece desaprovar o atual sistema de ações, não a especulação ou a acumulação em si.

Politicamente contido, o roteiro se foca na questão moral dos personagens e na capacidade de destruir vidas que possui esse sistema financeiro. Contudo, esse retrato não parece suficiente para dar ao filme a costumeira força dos filmes de Stone. Há ainda uma tentativa de explicar a crise atual e sua estreita relação com uma cultura de consumismo exacerbado, mas há apenas um momento em que essa explicação fica clara: na palestra dada por Gecko. No restante do filme, ainda que movimentações arbitrárias, movidas apenas pelo desejo pessoal sejam mostradas, é difícil para o espectador leigo acompanhar como essas manobras levaram à crise.

No entanto, Stone é um grande cineasta e a crítica social é o terreno onde ele vem se movimentando por anos. Dessa forma, ele faz de Wall Street: o Dinheiro Nunca Dorme um alerta, um sinal para o poder desintegrador e desumanizador do dinheiro e, mais ainda, da acumulução, ou seja, do próprio entendimento de que o dinheiro é um valor em si, não um item de troca, que se busca tendo por referência outros objetos. Os personagens aqui, mesmo Moore, tem prazer na acumulação e nos ganhos, o dinheiro é um valor, uma relação, que, pouco a pouco, no desenrolar do filme, suplanta todas as outras relações.

Assim, ainda que Stone apresente aqui um filme menos inflamado que seus anteriores, e de certa forma pouco claro em seus objetivos, ele não deixa de radiografar acuradamente o efeito de seu objeto nas relações humanas e, como em Assassinos por Natureza levantar uma bandeira pela humanização dos grandes sistemas.

 

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