Só as mães são felizes

“Pô, mãe, roqueiro não tem mãe!” – Essa frase, dita pelo cantor/compositor Cazuza ao ver a mãe ir buscá-lo num dos encontros com amigos na alta madrugada em locais proibidos da boêmia transgressora carioca dos anos 80, torna-se um pouco mentirosa quando vasculhamos nas composições e letras das músicas do rock and roll nacional e mundial os temas mais recorrentes. Roqueiro tem mãe, sim! E elas, como ocorre na vida de todos os demais filhos do planeta Terra, roqueiros ou não, parecem ter uma influência surpreendente não somente sobre a formação das personalidades do seus rebeldes babies, mas inclusive sobre as composições do controverso e sempre midiatizado rock’n’roll.

A vanguardista banda nacional Os Mutantes já cantou nas letras escritas pelo trio Arnaldo Dias Baptista, Rita Lee e Arnolpho Lima Filho que: Posso perder minha mulher, minha mãe, desde que eu tenha o rock and roll. Contudo, sem as mães o rock não seria o que foi, e o que é, ainda, no cenário mundial da música e da cultura juvenil mundial. Desde os sempre aclamados Beatles, nas letras de algumas de suas canções que engatava a histeria juvenil como “You mother should know“, passando pelas letras de um já amadurecido John Lennon pai e eterno companheiro de Yoko Ono em “Mother“, e dos moços malvados do Rolling Stones (“Mother’s Little Helper“), até o rock progressivo do Pink Floyd (“Mother“, letra de Roger Walters) e da genialidade musical das letras de Fred Mercury (“Mother Love” e “Bohemian Rapsody“), o que comprovamos é que as mães sempre foram e continuam a ser uma grande fonte de inspiração musical para os babies transgressores.

Seja para relatar o já tradicional complexo de édipo cunhado na psicanálise estruturalista, como nas letras de “Mother” de Lennon

Mãe, você me teve, mas eu nunca a tive
Eu te quis, você não me quis
Então eu… eu apenas tenho que lhe falar
Adeus, adeus

ou de “Mother Love” de F. Mercury

Estar no mundo exterior sem vida
Eu não quero pena, apenas um lugar escuro para me esconder
Mamãe, por favor, deixe-me voltar aí pra dentro

Seja na nostalgia de um futuro ainda por vir de Frejat e Cazuza em “Só as mães são felizes

Reparou como os velhos
vão perdendo a esperança,
com seus bichinhos de estimação e plantas?
Já viveram tudo e sabem que a vida é bela.
Reparou na inocência cruel das criancinhas
com seus comentários desconcertantes?
Adivinham tudo e sabem que a vida é bela

As mães ora aparecem com uma conflitante figura que tenta a qualquer custo proteger seus filhos do mundo nefasto e cruel — e, por isso mesmo, acabam por magoá-los por não lhes contar a verdade sobre o mundo lá fora. Como em “Mother“, do Pink Floyd:

Filho, fique quietinho agora, não chore
Mamãe irá fazer todos os seus pesadelos virarem verdade
Mamãe ira colocar todos os medos dela em você
Mamãe vai manter você bem debaixo da asa dela
Ela não lhe deixa voar, mas talvez lhe deixará cantar
Mamãe lhe deixará aconchegado e aquecido
Filho, fique quietinho agora, não chore
A mamãe vai checar todas as suas namoradas pra você
Mamãe não irá deixar ninguém sujo se aproximar
Mamãe vai esperar, até que você entre
Mamãe vai sempre descobrir por onde você esteve
Mamãe vai sempre manter o bebê saudável e limpo

Ora aparecem como um símbolo mítico do cristianismo-judaico ocidental que precisa ser negado a qualquer custo para, assim, negar-se ao Pai (Deus) e tudo aquilo que ele representa, como nas letras de Gleen Danzig, vocalista e letrista da banda de heavy metal Danzig.

Polêmicas, superprotetoras, idólatras do filhos, corajosas, mulher, ausentes ou presentes, divinas ou pecadoras, a verdade é que quando pesamos nestes ícones do rock and roll e da cultura de música massiva, não podemos de deixar de nos lembrar das mães e da sua importância na formação da personalidade desse grandes artistas, e de todos nós.

Pois, ao contrário do que disse Cazuza citado no início do texto, roqueiro têm mães sim! Fãs de rock and roll também! E elas estão a todo o instante presentes em suas vidas. Seja para negá-las ou idolatrá-las, as mães nos mostram que, se o rock não pode viver sem uma boa dose de rebeldia e transgressão, são elas que nos ensinam na influência do lar doméstico o que deve ser transgredido ou mantido.

Caso contrário, sem a transgressão e o risco de ousar, estaríamos fazendo sempre tudo igual como nossos pais. E por mais que os amemos muito e saibamos que tudo na vida muda, há algumas coisas permanecem sempre o mesmo: como o incondicional amor materno. Infelizmente, para as mães, seus bebês crescem e aprendem que o mundo é muito maior que seus lares aconchegantes ou repressores. E o tempo, meus caros, esse não pára! Nunca! Nem para as mães, nem para seus subversivos babies do rock.

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