Há espaço para revistas de cultura?

João Gabriel Lima, da Bravo!, afirmou:

[O jornalismo cultural] é difícil, tem pouco leitor, a Bravo!, dentro da Editora Abril, é uma revista muito pequena, é uma operação muito pequena, temos pouca gente para fazer uma revista do tamanho da Bravo!, e, com todos esses problemas que realmente existem, eu acredito que pode acontecer no mercado brasileiro o que está acontecendo no mercado americano, que é o anunciante apostar nesse tipo de produto e o leitor comprar cada vez mais.

Há um número considerável de revistas de literatura, artes e cultura em geral sendo publicadas no Brasil hoje, a saber: as revistas Bravo!, a Cult, a EntreLivros, a Piauí, a Língua Portuguesa, a Discutindo Literatura, a Set, a Rolling Stone, entre outras. Piauí, por exemplo, em janeiro de 2008 contava com 10.892 assinantes, de acordo com pesquisa de “perfil do assinante”, realizada pela Data Base Marketing e que foi apresentada repórter pelo ex-diretor executivo da revista, Ênio Vergeiro.

Além dessas, os sites culturais são muitos também: o Digestivo Cultural (que, recentemente, anunciou ter alcançado a marca de 1.000.000 de page views mensais — 1.000.000 de visitantes individuais mensais, já que o pageview registra uma visita para cada computador, não importando quantas vezes a página foi visualizada); o site colaborativo Overmundo, a revista digital Cronópios, o site de cultura pop Omelete, o Burburinho.

Também existem os tantos blogs de cultura (por exemplo, o Pensar Enlouquece, mantido por Alexandre Inagaki e o blog homônimo do escritor Alexandre Soares Silva — que são autores distantes da grande mídia — e os blogs do jornalista da Folha de S.Paulo, Marcelo Coelho.

A oferta de produção cultural é abundante, apesar de se conhecer que o Brasil é um país preponderantemente de não-leitores. Mesmo assim esse cenário leva a crer que a demanda existe. A afirmação é comprovada por uma pesquisa realizada por Capitu: 80% dos entrevistados disseram ter o hábito de ler revistas; 60% deles comprariam uma revista de literatura & cultura com certeza e 16% do total responderam “talvez” para essa possibilidade.

Foi pedido aos entrevistados que citassem as revistas que liam com alguma freqüência. A revista Veja, sozinha, tem 32% das citações, seguida de revistas de Ciências e Curiosidades (Super Interessante e Galileu) e as especializadas em público feminino. Todas as publicações no topo da lista tratam de atualidades e utilidade cotidiana, mas também possuem editorias de cultura: indicam livros, música, cinema e teatro.

O jornalista e escritor Daniel Piza crê que haja esse espaço, segundo seu livro Jornalismo Cultural:

[…] quero deixar claro que, pela minha experiência e pelas estatísticas, há um contingente sólido, respeitável, de leitores interessados em jornalismo cultural de qualidade; e que sempre há espaço, a ser criado e recriado com persistência, para quem se dispuser a produzi-lo.

Para quem se propuser a criar uma revista de cultura, um aspecto a dar atenção é a afirmação de uma nova personalidade, como diz Guilherme Werneck, da Trip:

“A parte mais difícil é construir uma revista e uma marca, é encontrar sua personalidade (…) Uma regra básica para encontrar essa personalidade é justamente buscar um caminho próprio e tentar não se pautar pelo mercado, mas fazer com que o mercado entenda o quanto essa sua visão é relevante e embarque no seu projeto.”

Por fim, diz o crítico de literatura de O Globo e do jornal O Estado de S. Paulo, José Castello:

“É claro, ainda são tiragens restritas, o mercado da imprensa no Brasil é muito encolhido. Os melhores jornais e as melhores revistas têm essas dificuldades mesmo conseguindo ter investimento, publicidade, esquemas de distribuição importantes. (…) É uma área com muita restrição, muita dificuldade, agora, é uma área também com muito potencial. E esse potencial está justamente nesta questão da inventividade, de você encontrar um caminho pessoal, uma lógica pessoal, um estilo pessoal.”

Autor

  • Jornalista formado pela Universidade Santa Cecília. Doutorando e mestre em Ciência da Informação e graduado em Filosofia pela Universidade de São Paulo (USP). Pós-graduando em Filosofia Intercultural pela Universidade de Passo Fundo (UPF). Especializado em Gestão Cultural pelo Centro de Estudos Latino-Americanos sobre Cultura e Comunicação (Celacc), um núcleo da USP. Como escritor, publicou o romance "As Esferas do Dragão" (Patuá, 2019), e o livro de poesia, ou quase, "*ker-" (Mondru, 2023).

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