10 filmes sobre comunismo

Apresentamos obras menos conhecidas, produzidas em países comunistas ou ex-comunistas, com uma amplitude de olhares sobre o tema

Por se constituir como um dos eventos mais importantes do século XX, a Guerra Fria serviu de inspiração para inúmeros filmes. Sobre o comunismo, centenas de obras surgiram do ocidente e do oriente.

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O maior clássico é O Encouraçado Potemkin, com uma grandiosidade que pretendia ser um mito fundador da União Soviética no cinema. Reds, de Warren Beatty, é outra obra a trazer a fundação da União Soviética às telonas.

Se alguns filmes fizeram ode ao comunismo ou então apresentaram um olhar mais neutro, o mais prolífico no lado ocidental da Cortina de Ferro foram as críticas. Dos heróis bombados matando comunistas interpretados por Stallone e Chuck Norris aos gênios malignos que desafiavam 007, muitas obras trouxeram a expectativa bem versus mal na polaridade Estados Unidos e União Soviética. A luta de Rocky Balboa contra Ivan Drago em Rocky IV é emblemática.

Outras muitas obras abordaram o comunismo por diversas óticas e até com teor artístico mais elevado que o cinema de diversão hollywoodiano. Doutor Jivago explorava a perseguição política, o ganhador do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro A Vida dos Outros mostra o clima de medo e paranoia reinantes, e Adeus, Lenin se tornou um marco pela cena da estátua do líder revolucionário levada de helicóptero.

Muitos filmes mais podem ser adicionados a essa lista: O espião que saiu do frio, Sob o domínio do mal e até o recente Ponte de espiões.

Na lista que apresentamos, foram separados dez filmes menos conhecidos que retratam o comunismo. Como todos eles foram produzidos em países comunistas ou ex-comunistas, a visão pessoal do diretor e da equipe de produção contam muito nas histórias. Dessa forma, temos uma amplitude de olhares e realidades referentes ao tema.

As Aventuras Extraordinárias de Mr. West no País dos Bolcheviques (1924), Lev Kuleshov

Cena de As Aventuras Extraordinárias de Mr. West no País dos Bolcheviques

Esse filme é bastante curioso pela relação política que apresenta. A história nos traz Mr. West, um estadunidense permeado pela ideia dos comunistas como criaturas bárbaras e violentas.

West viaja para a União Soviética, onde é vítima de uma quadrilha de golpistas que exploram essa sua crença. Os golpistas afirmam que os bolcheviques destruíram as universidades e as casas de espetáculos e isso tudo deixa West horrorizado.

No fim das contas, policiais bolcheviques prendem a quadrilha e libertam West. No final, o policial que o soltou leva West para conhecer a verdadeira União Soviética, aquela em que há prosperidade, em que universidades levam conhecimento para o povo e as casas de espetáculos oferecem cultura. West retorna para os Estados Unidos e se torna um ávido defensor dos soviéticos.

Esse filme traz uma abordagem inusitada, e quase única, que é a da União Soviética se mostrando receptiva ao estrangeiro e apresentando suas realizações aos outros países, em total clima de concórdia, em especial com os Estados Unidos. Soa como um convite de relações amistosas. O filme foi realizado na época da morte de Lenin e da subida de Stálin ao poder. Então ele acaba sendo um curioso documento de época e talvez até mesmo um reflexo político.

O baile dos bombeiros (1967), Milos Forman

Cena do filme O Baile dos Bombeiros

Milos Forman ficou famoso no cinema dos Estados Unidos com obras como Um estranho no ninho, Amadeus e O mundo de Andy. Mas em sua Tchecoslováquia natal ele realizou uma produção que com um forte subtexto criticou o comunismo: O Baile dos Bombeiros.

A história se passa em uma pequena cidade onde o corpo de bombeiros local vai realizar um baile para comemorar os 86 anos de seu ex-chefe. Durante a celebração, uma comédia de erros acontece, com comida desaparecendo, moças sendo forçadas a participar de um concurso de miss e um bingo onde os prêmios somem.

Nessa história trapalhona sobre um microcosmo de uma instituição burocrática, Forman cria uma sátira ao regime ao retratá-lo por meio de uma estrutura perdida, decadente, devassa, mandona e incapaz de manter a ordem em uma simples situação.

A orelha (1970), Karel Kachyňa

Cena de A Orelha

Apesar de ter sido produzido em 1970, o filme só foi lançado em 1990 devido à censura, ficando embargado por duas décadas. Sua história retrata em clima de thriller as perseguições políticas na Tchecoslováquia dos fins dos anos 1960, logo após a Primavera de Praga, que soterrou a autonomia do país.

Na obra, acompanhamos o casal Ludvík e Anna, sendo ele membro do Partido Comunista. O casal é explosivo, estando sempre prestes a uma briga, ainda mais sob o consumo excessivo de álcool. Ao longo de uma noite de bebedeira e brigas, eles acabam descobrindo que sua residência foi grampeada e que Ludvík está sendo investigado como um suposto traidor. Essa descoberta acaba impactando a própria relação da dupla, o que nos traz várias leituras para a obra. Uma, a do lado político, da perseguição existente nos países comunistas. Outra, a do lado humano do casal, que de um estado de contínuas crises encontra no inimigo comum um esteio para reestruturar sua relação.

Salmo Vermelho (1972), Miklós Jancsó

Cena de Salmo Vermelho

O diretor Miklós Jancsó procurou fazer uma demonstração bastante poética de luta de classes e da população proletária rural se levantando contra a burguesia latifundiária. O filme é repleto de músicas, danças e cores, dando uma expressão onírica para a luta de classe. É teatral, é poético.

A intenção artística é válida, pois apresenta a ideia do comunismo com ar pueril. É a ideia de pessoas que se levantam contra a opressão, criam uma comuna feliz e próspera e no final acabam lidando com a contra-ofensiva dos proprietários de terra.

Esse filme tende a agradar quem tenha uma visão idílica dos ideais comunistas. Entretanto, diante da cruel realidade tanto das relações de classe existentes quanto dos graves desrespeitos aos direitos humanos cometidos sob a bandeira do comunismo, esse filme acaba, no fundo, sendo um tanto quanto inocente.

O Homem de Mármore (1977) e O Homem de Ferro (1981), Andrzej Wajda

Cena de O Homem de Mármore

A duologia de Andrzej Wajda forma um painel político extremamente realista da Polônia, apresentando desde questões ideológicas com relação ao regime comunista até os levantes de oposição que derrubaram o governo.

Em O Homem de Mármore, acompanhamos a cineasta Agnieska em busca da história de um operário chamado Mateusz Birkut, um antigo herói que caiu em esquecimento. É através dos olhos dela que conhecemos esse personagem, um pedreiro que é elevado a herói nacional pela sua capacidade de trabalho na construção civil. Ele representa a postura que uma Polônia comunista precisava, de trabalhadores dedicados, fortes e orgulhosos para promover o progresso. Mas, por trás dos bastidores, ele não passa de uma pessoa manipulada pelos detentores do poder. O final desse herói é a queda e o esquecimento público.

Ao final de O Homem de Mármore, Agnieska encontra o filho de Birkut, e esse é o gancho para a sequência O Homem de Ferro.

Se o primeiro filme se passa em um período de crença no comunismo e na ideologia como um método de controle, em O Homem de Ferro a situação muda. Esse filme vai buscar inspiração na realidade polonesa dos anos 1980, no sindicato Solidariedade que foi um dos principais agentes para a derrocada do comunismo local.

O filho de Birkut, Maciej Tomczyk, é líder sindical e o sindicato está em forte conflito contra o governo. Agnieska, na busca por Birkut, acaba então sendo a peça para mostrar dois momentos históricos da Polônia. Esse filme tem forte caráter documental, como um acompanhamento direto do desenrolar do futuro do país.

Quando Papai Saiu em Viagem de Negócios (1985), Emir Kusturica

Cena de Quando Papai Saiu em Viagem de Negócios

Obra que alavancou o nome de Emir Kusturica como um grande diretor, o filme nos mostra a visão de um garoto sérvio, Malik, cujo pai, Mesa, costuma viajar a negócios. Um dia, por causa de um problema com sua amante, Mesa acaba sendo denunciado como traidor às autoridades e é enviado para trabalhos forçados em uma mina como punição.

A mãe diz para Malik e seu irmão que seu pai viajou a negócios para justificar sua ausência. E é pelo olhar de uma criança diante de uma realidade que ela não compreende que Kusturica nos apresenta uma análise crítica de seu país, desde os problemas econômicos do sistema até a perseguição política e a falta de direitos básicos de defesa.

Síndrome Astênica (1989), Kira Muratova

Cena de Síndrome Astênica

Filme situado no período da glasnot e da perestroika na União Soviética, ele nos traz um professor que sofre de uma doença que o faz cair no sono repentinamente em qualquer lugar. Essa metáfora foi utilizada pela diretora Kira Muratova para trazer sua crítica ao regime prestes a cair, onde as pessoas estariam em um estado de sonolência e apatia perante o mundo.

O longa traz uma cena icônica em que pessoas se estapeiam para conseguir peixe em um mercado. A crítica à situação econômica mais a visão singular empregada (para não dizer misantrópica) fazem dele uma obra prima.

O Sonho Azul (1993), Zhuangzhuang Tian

Cena de O Sonho Azul

Zhuangzhuang Tian faz parte de uma geração de diretores chineses que têm duas características bem presentes nas obras: o excessivo esmero artístico e críticas à política de seu país.

O sonho azul é uma das principais obras críticas ao governo chinês, chegando a ter problemas com censura. Aqui, mais uma vez a história é narrada através do olhar de uma criança, Tietou, que um dia perde sua pipa. Seu pai, então, promete lhe dar uma nova.

Entretanto, os comunistas tomam o poder na China e as mudanças propostas pela revolução acabam afetando a família. No fim das contas, o pai de Tietou é levado embora e a pipa azul se torna apenas um sonho que ele carregará.

A história atravessa pontos importantes e trágicos da China comunista, como a fome causada pelo Grande Passo Adiante e a Revolução Cultural. Transportando essa realidade histórica para a simbologia da pipa, o diretor Tian Zhuangzhuang nos conta uma história que mostra a representação na pele de quem passou pelas mudanças no país e ilustra a ideia da perda do sonho que a realidade traz.

Quatro Meses, Três Semanas e Dois Dias (2007), Cristian Mungiu

Cena de Quatro Meses, Três Semanas e Dois Dias

Esse filme se passa na época dos últimos estertores da ditadura de Ceauşescu na Romênia. Na história, acompanhamos duas jovens, Otilia e Gabita, na missão de realizar um aborto em Gabita. Para isso, recorrem a um sujeito esquisito que se propõe a realizar o procedimento, mas que faz a cobrança do serviço de modo cruel.

A relação da proibição do aborto faz analogia a toda estrutura social do país, com toda iniciativa individual sendo podada. Assim como realizar essa cirurgia ilegal, tudo no país era de difícil acesso. Comprar uma simples bala demanda procurar um contrabandista. De vagas de hotel a bilhetes de ônibus, o filme mostra como a rigidez de uma ditadura e seu descontrole econômico são capazes de limitar das mais ínfimas às mais graves necessidades humanas.

Portretul Luptãtorului La Tinerete (2010), Constantin Popescu

Cena de “Portretul Luptãtorului La Tinerete”

Em Portretul luptãtorului La Tinerete (que pode ser traduzido como “Retrato do soldado quando jovem”) vemos a história real de Ion Gavrila Ogoranu, líder de um grupo de partisans que lutou contra o regime comunista da Romênia após o término da Segunda Guerra Mundial.

Dirigido por Constantin Popescu, o filme tem um clima de documentários, e mostra a luta dos partisans contra forças governistas e todas as agruras passadas por Ogoranu e seus companheiros de armas. Um filme mais direto, com uma crítica aberta, que narra uma história real de uma figura relevante da história romena.

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Um comentário sobre “10 filmes sobre comunismo

  1. Estou procurando filme especifico sobre pais comunista . Creio que China.onde casal de militares são alojados em pequenos apartamentos (padrão) e.recebem.filho oara criar para o sistema sem apego sem afeto.
    Antigo [email protected]

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