Educação

Um filme bem executado em todos os seus aspectos e que dosa bem profundidade e leveza

Educação (An Education, no original) é um filme de Carey Mulligan. É claro que está lá o estilo característico de Nick Hornby: o filme flui fácil e leve como sua prosa e está recheado de referências a músicas e filmes, além de ser uma história de amadurecimento. É notável ainda a mão leve da diretora Lone Scherfig (Italiano para Principiantes), que é capaz de conduzir a história com a delicadeza que a personagem parece pedir. Mas é Mulligan, com sua capacidade de dosar inocência com amargura, que dá substância ao filme.

O filme fala sobre Jenny, uma garota do subúrbio londrino que vive vigiada pelos pais rígidos, frequenta uma escola tradicional de garotas e se prepara para Oxford, enquanto sonha com Paris, livros existencialistas, filmes nouvelle vague e chanson francesa. Esses devaneios encontram par perfeito em David, um bon vivant com o dobro da idade de Jenny e que lhe promete uma vida de prazeres. No decorrer do filme, David se mostrará muito menos sofisticado do que parece e Jenny terá sua maior educação, fora da escola.

É inegável que há algo de moralista na história, mas isso não chega a atrapalhar a maior qualidade do filme: ser uma bela crônica e metáfora dos anos 60. Jenny é a exata síntese de um mundo que está à beira da mudança, mas ainda não chegou lá: ela deseja a França, que está mudando mais rápido do que sua conservadora Inglaterra e se fascina pelo mundo de jazz e clubes que David lhe apresenta. Mas nada daquilo é de fato real e, embora ela possa perder a virgindade aos 17 anos (o que lhe custará uma expulsão do colégio), deve escolher entre se casar ou ir para a universidade.

E é aí que reside o trunfo da atriz estreante: a Jenny de Carey Mulligan é tão inocente quanto blasé e, ao fim do filme, tão amarga quanto fresca. E ela que sustenta o filme para fora do moralismo. Ao fim, Educação é, como a maior parte das narrativas de Nick Hornby, um filme sobre o amadurecimento; mas, aqui, é também um filme sobre o mundo em ponto de saturação — sobre meninas que já não cabem em suas escolhas: casar, ser secretária, dar aula para outras garotas, ou fazer serviço social (todas essas claras ou pontuadas no filme), sobre homens que já não cabem em suas famílias e uma sociedade que, como diz a própria Jenny, parece estar sempre suspensa, à espera de que algo aconteça.

Mas Educação traz ainda um outro aspecto: ele assume-se como o filme britânico e independente que é. Traz um bom roteirista, bons e desconhecidos atores e um trabalho de direção de arte e trilha sonora extremamente competente. Mas está longe tanto da estética Hollywoodiana quanto do cinema americano independente: é um filme claramente europeu e de tradição moderna (em oposição ao pós-modernismo gritante do cinema americano atual) e que parece, ainda que muito levemente, levantar uma bandeira pelos cinemas nacionais.

Ao fim, Educação é um filme bem executado em todos os seus aspectos e que dosa bem profundidade e leveza. Se não é uma obra-prima, ou mesmo um grande filme, é, ao menos, acima da média, e nos revela uma possível grande atriz.

Autor

Compartilhe esta postagem:

Participe da conversa