A ausência do gesto e da oralidade na Organização do Conhecimento

Tema de pesquisa: como a área da Organização do Conhecimento pode compreender as formas gestuais e orais de conhecimento?

Extraído do livro Introduction to Knowledge Organization [Introdução à Organização do Conhecimento], de Claudio Gnoli, que apresenta uma história da formação do conhecimento, identificando que

[…] a necessidade de organizar o conhecimento cresce na medida em que nos aproximamos do conhecimento socialmente compartilhado. De fato, se nós chamarmos as coisas por um jargão conhecido apenas por nós e nossos parentes, isto não vai servir para comunicar e coordenar ações com outras pessoas. Para tais propósitos algum ‘vocabulário’ e alguma ‘gramática’ comuns se tornam necessários. As comunidades humanas desenvolveram desse modo sistemas simbólicos compartilhados, como gestos, rituais, palavras, fórmulas, ditos, lendas e mitos.

No nível societal novas formas de organização se tornaram relevantes. Por exemplo, provérbios podem sumarizar ricas quantidades de conhecimento social em dizeres que são facilmente aprendidos e memorizados; canções infantis com frequência listam entidades em ordem numérica (‘um é o Sol, dois são os olhos…’), taxonomias folk, como se vê no léxico dos dialetos, transmitem conhecimento práticos sobre relevantes espécies de planta e animais. Até a Idade Média a maior parte do conhecimento era ensinado de maneira prática e oral mesmo para estudantes avançados, e técnicas mnemônicas permitiam a eles que retivessem informação ao imaginar arquiteturas do tipo ‘teatros da memória’, que eram organizadas por regras de associação.

Tudo isso é de interesse potencial para o domínio da Organização do Conhecimento, mas até o momento tem sido mais estudado por outras disciplinas, como a etnografia e a etnolinguística. Um estudo dos princípios pelos quais formas gestuais e orais de conhecimento são estruturas ainda está por ser desenvolvida no campo a que esse livro é devotado. Entretanto, especialmente desde a disseminação das técnicas de impressão, o conhecimento tem sido transmitido crescentemente em formas registradas […], e a Organização do Conhecimento se desenvolveu por meio do estudo de documentos registrados.[1]Original: “However, the need to organize knowledge grows as we move to socially shared knowledge. Indeed, if we call things only by a jargon known to us and our relatives this will not serve to … Continue reading (p. 19-20, grifo nosso)

O trecho destacado delimita a lacuna: falta ainda, no campo da Organização do Conhecimento, compreender as estruturas dos saberes orais e gestuais e quais recursos de organização essas formas do conhecimento empregam. Entre outros problemas de pesquisa está esse: como esses formas de organização orais e gestuais se relacionam com as formas de organização dos materiais impressos?

References

References
1 Original: “However, the need to organize knowledge grows as we move to socially shared knowledge. Indeed, if we call things only by a jargon known to us and our relatives this will not serve to communicate and coordinate action with other people. For such purposes some common ‘vocabulary’ and ‘grammar’ become necessary. Human communities have therefore developed shared symbolic systems, such as gestures, rituals, words, formulas, sayings, tales and myths.

At the societal level new forms of organization become relevant. For example, proverbs can summarize rich amounts of social knowledge in sayings that are easily learned and memorized; nursery rhymes often list familiar entities according to numerical order (‘one is the Sun, two are the eyes …’); folk taxonomies, as reflected in the lexica of dialects, convey practical knowledge about classes of relevant plants and animals. Until the Middle Ages most knowledge was taught in practical and oral forms even to learned students, and mnemotechnics allowed them to retain information by imagining such architectures as memory ‘theaters’, which organized it by rules of association.

All this is of potential interest to the domain of KO, but until now has been studied mostly by other disciplines, such as ethnography and ethnolinguistics. A study of the principles according to which gestural and oral forms of knowledge are structured is yet to be developed in the field to which this book is devoted. However, especially since the spread of printing techniques, knowledge has been transmitted increasingly in recorded forms […], and KO has developed through the study of recorded documents”.

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